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Adiós, amigos!

Como o Luciano do Inpe havia antecipado em seu comentário à postagem anterior, partimos. E, mais importante: chegamos, sãos e salvos, ao Chile, por volta das 17h.

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Começamos a desembarcar na estação antártica chilena de Eduardo Frei (para quem estiver curioso, o nome homanageia o pai do atual candidato à Presidência do país) por volta das 8h30 da manhã, depois de subirmos a bordo do Ary Rongel às 2h da madrugada. Como tinha muita gente para vir -- além de meia dúzia de jornalistas, havia ainda a equipe do Arsenal de Marinha do Rio que voltava para casa e um grupo de cientistas, que inclui a filha da dona Celia. A foto abaixo mostra o terceiro bote a chegar a Frei repleto de brasileiros na manhã desta quinta. É o dos cientistas.

 Foto: Estadão

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Fiquei muito pouco tempo em Frei na primeira vez em que passei por lá, porque os chilenos nos deram uma carona de trator de neve para que pegássemos rapidamente o bote que nos levou ao navio Almirante Maximiano, em meados de novembro. Desta vez, no entanto, não havia trator disponível, e todo mundo que chegou à praia de Frei teve de subir a pé até o hotel de trânsito que fica junto à pista de aviões.

A distância a caminhar foi estimada por um oficial da Marina Brasileira com quem falei em mais de 2 km, e o terreno estava péssimo -- neve fofa e escorregadia, ou finas camadas de gelo cobrindo poças de água gelada. Esta foi a primeira vez em que tive de lançar mão de um procedimento que havia lido nos manuais sobre a Antártida que a Marinha me enviou antes da viagem: tirar as botas e trocar as meias molhadas de gelo e água gelada por um par seco. Por quê? Porque enfiei o pé direito até o joelho numa poça, oras.

(Fiz a subida carregando a mochila do jornal, contendo laptop e câmera de vídeo. Ao todo, a carga pesa uns 7 kg. Não tenho fotos dessa jornada porque estava muito ocupado com atividades prosaicas, tipo respirar; deixo a recomendação de que futuras expedições à Antártida sejam cobertas via netbook ou smartphone.)

Já disse que Frei tem um hotel de trânsito. O lugar inclui um salão amplo e aquecido, com um retrato da presidente Bachelet e um cafezinho grátis para quem fica lá esperando voo. Acho o café que se bebe no Chile meio sem graça, mas a cavalo dado não se olha os dentes, e eu estava com uma sede danada. Aproveitei que o salão é decorado com espelhos para fazer uma foto de mim mesmo. Compare com a que ilustra o topo desde blog e veja o que 20 dias de aventura e emoção fazem com a cor da barba do cidadão.

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 Foto: Estadão

Boa parte da manhã foi passada em apreensão, pois não sabíamos se o Hércules da FAB que viria nos buscar teria teto para pousar em Frei. O voo já havia sido adiado por causa do mau tempo. Mas, finalmente, por volta das 11h da manhã, o aparelho tocou a pista.

 Foto: Estadão

Nosso embarque não foi imediato: um grupo de VIPs -- altas patentes militares e figuras do mundo político -- estava chegando no voo, e partiu de helicóptero para conhecer Comandante Ferraz. Eles iriam voltar conosco, e por isso ficamos esperando o tour terminar.

Frei tem uma loja de suverines, mas não fui lá: uma pequena confusão envolvendo passaportes e a oferta de um catanho (isso é marinhês para lanche pré-preparado, tipo um saquinho contendo sanduíche, iogurte e barra de cereais) para quem retornava ao Brasil conspiraram para manter todo mundo orbitando o hotel de trânsito.

O avião decolou, finalmente, às 14h30. Abaixo você vê a configuração interna do Hércules, com os passageiros em seus lugares.

 Foto: Estadão

No voo, tivemos a sempre presente Tia Alice, uma senhora prestes a fazer 82 anos e que é a comissária de bordo com mais tempo de serviço no Brasil, e que atua pondo ordem nos voos para a Antártida. Também recebemos o lanche, novamente superior ao de muita classe econômica. Desta vez, o meu veio com polenguinho!

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Enfim, cheguei a Punta Arenas, são e salvo; tomei banho com um banheiro inteiro só para mim! A civilização me recebe de braços abertos.

E este blog acaba.

Ainda tenho uns dias para passar aqui em Punta, e pensei em blogar sobre eles, mas depois da Antártida, isso seria apenas um arrastado anticlímax. Então, voltando a citar Cary Grant, melhor sair antes que comecem os bocejos.

Andei tentando bolar algo de inteligente para dizer sobre o impacto e o poder da Antártida, sobre as paisagens que fascinam e intimidam, maravilham e assustam; sobre as coisas que aprendi a respeito do potencial liberado quando há interesse, planejamento cuidadoso, senso de propósito e disposição para cooperar.

Ou ainda, fazer um censo de todas as coisas que a minha mulher nunca vai acreditar que fiz (descer escadinha de navio durante a neve e vento forte, andar de bote no meio da chuva, subir montanha para ver paisagem, evitar beber muito nas festas, etc)

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Mas imagino que o melhor, mesmo, seja agradecer ao pessoal de Comandante Ferraz - e da Marinha do Brasil - pela oportunidade e pelo tratamento sempre cortês, amigo, interessado; e aos colegas da imprensa, concorrentes ou não, que ajudaram a tornar o trabalho mais animado.

Mas, principalmente, aos cientistas que atuam no continente gelado. Passar meses longe da família, oscilando entre o tédio abissal e o risco de vida, afastado  de praticamente todos os pequenos confortos da civilização, de coisas que quem está mais ao norte nem nota que existem -- tudo isso para caçar bactérias, medir a sujeira do ar e ver como o efeito estufa está afetando a ecologia, entre outros projetos, é que é esporte radical. Lutar jiu-jitsu com um gorila ensandecido é fichinha em comparação.

A todos os que se deslocam à fronteira do mundo habitável para expandir a fronteira do conhecimento humano em geral, e a ciência brasileira em particular, meu muitíssimo obrigado.

PS

Para quem quiser continuar com uma janela aberta para o dia-a-dia de Ferraz, o blog das meninas do Projeto Zooplâncton é uma boa pedida!

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