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Bye, bye Atlantis

Se não houver novos adiamentos, dia 13 o ônibus espacial Atlantis parte em sua última missão ao espaço. Trata-se do primeiro ônibus espacial a ser aposentado dentro da diretriz fixada após o desastre do Columbia, em 2003, de retirar toda a frota até o fim de 2010.

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Por Redação
Atualização:

O ônibus espacial entrará para a história como uma promessa não cumprida. Concebido num momento de inflexão da política espacial americana -- que, no início dos anos 70, abandonava a pretensão de seguir explorando a Lua e de levar astronautas a Marte, optando por concentrar-se na órbita terrestre --o veículo, muitas vezes chamado de "a mais complexa ferramenta já construída pelo homem" foi apresentado como algo que viria a banalizar e democratizar as viagens espaciais.

A pretensão era realizar um voo por semana, e abrir a "fronteira econômica" da órbita terrestre e do espaço ao redor do planeta. O físico e visionário americano Gerard O'Neill criou uma proposta detalhada para a construção de hábitats orbitais, grandes cilindros giratórios onde seres humanos poderiam viver, cultivar alimentos, criar indústrias, tudo viabilizado pelos ônibus espaciais.

 Foto: Estadão

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Estudos foram realizados para que os grandes tanques de combustível vazios das naves fossem reaproveitados como protótipos dessas colônias celestes. A ficção científica da época -- era o início da onda cyberpunk -- abraçou ambos os conceitos, da vida em órbita e do desenvolvimento econômico espacial: indústrias em órbita, linhas privadas de ônibus espaciais partindo de Tóquio e Paris,colônias em cilindros povoaram o imaginário do período.

Até James Bond se envolveu com ônibus espaciais e colônias orbitais administradas por empresários gananciosos, num dos episódios menos ilustres da série cinematográfica.

A ideia parecia tão boa na época que os próprios soviéticos tentaram criar o ônibus espacial deles, mas o Buran realizou apenas um voo. Teleguiado, ainda por cima.

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No fim, a Nasa nunca foi capaz de viabilizar a realização de um lançamento por semana,a iniciativa privada não se animou a investir em cidades e indústrias orbitais -- a despeito das tão decantadas virtudes da microgravidade -- e os ônibus espaciais acabaram se mostrando, como os desastres de Challenger e Columbia evidenciaram, muito menos seguros do que havia sido prometido.

A Estação Espacial Internacional (ISS) e o Telescópio Hubble acabaram, no fim, se tornando a raison d'être da frota. Uma piada frequente diz que o ônibus espacial existe para ligar a Terra à ISS; e a ISS existe para o ônibus espacial ter para onde ir.

O fim dos ônibus espaciais será o fim de uma visão de expansão da presença humana no espaço e de desenvolvimento econômico da órbita terrestre que nunca se concretizou. Nesse aspecto, as naves são como um martelo criado parabater um tipo muito específico de prego -- um prego que nunca chegou a ser fabricado.

Ironicamente, a única tecnologia que restará, ao menos por algum tempo, para levar seres humanos ao espaço será a das velhas naves russas Soyuz, produto do país derrotado duas vezes em corridas espaciais: a para a Lua e a pela nave reutilizável. Até mesmo as cápsulas chinesas Shenzhou são derivações do antigo design soviético.

No entanto, nem mesmo os russos estão satisfeitos com a Soyuz: novos designs, como o Kliper, estão em estudo, e há até mesmo defensores da ressurreição do Buran. Vai ser interessante ver se as empresas americanas encarregadas de projetar e construir a próxima geração de veículos orbitais do país conseguirão vencer essa nova corrida.

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