Parece pouco, mas não é. Em termos de eleições brasileiras, 1,6 ponto pode ser a diferença entre haver ou não um segundo turno. Para reduzir o risco de a associação ser fruto de mera coincidência, os autores do trabalho (publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a PNAS) compararam resultados eleitorais também com os de jogos realizados após os pleitos, e não viram efeito nenhum.
Mesmo levando-se em conta diferença culturais entre os povos, não parece haver muitos motivos para duvidar de que o resultado tenha alguma aplicação a democracias em geral. No caso brasileiro, onde o voto é obrigatório, desconfio que a correlação possa ser até maior. O eleitor americano, afinal, tem que tomar duas decisões: votar ou não e, no caso afirmativo, em quem; para o brasileiro, a primeira decisão já foi tomada a priori.
A pesquisa não foi realizada por cientistas políticos, mas por economistas -- o objetivo era avaliar o impacto de "eventos irrelevantes" na tomada de decisões. A associação entre esporte e política foi escolhida porque os resultados de jogos "(i) afetam de forma significativa o bem-estar das pessoas, seja diretamente ou por contágio em redes sociais, e (ii) não têm relação com os negócios públicos. Nenhuma ação governamental seria esperada em respsta ao resultados dos jogos e o público quse que certamente não os relacionaria à performance do candidato da situação", escrevem os autores.
Eles ressaltam ainda que o efeito está mais ligado ao impacto emocional direto da vitória do time da casa do que à força da agremiação -- é o clima de alegria proporcionado pela vitória recente, e não a satisfação de saber que o time está bem, o fator principal aqui.
Os resultados sugerem uma perspectiva sombria para a capacidade humana de tomar decisões racionais, até mesmo em questões críticas como o processo eleitoral, mas nem tudo são trevas.
Os autores determinaram também que, quando as pessoas tomam consciência da causa de seu estado de espírito -- por exemplo, quando o pesquisador, antes de perguntar se o eleitor aprova ou não o governo, menciona explicitamente a vitória recente do time local -- o efeito estatístico pró-situação desaparece.
"Deslocando as considerações subconscientes para o primeiro plano, a preparação experimental permitiu que as pessoas separassem a mudança de humor induzida pela sorte do time do objeto político em questão" , diz o artigo na PNAS.