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Veneno forte pode também atuar como remédio para leucemia

Tratar pacientes com um veneno violento pode parecer paradoxal. No entanto, o arsênico foi usado já na Grécia antiga para curar.

Por taniager
Atualização:

Tratar pacientes com um veneno violento pode parecer paradoxal. No entanto, o arsênico foi usado já na Grécia antiga para o tratamento da tosse, da lepra ou ainda da sífilis. Recentemente, a equipe de Hugo Thé da Universidade de Paris Diderot/CNRS, na França, mostrou porque o arsênico é capaz de tratar eficazmente a leucemia promielocítica aguda, uma forma grave de câncer no sangue.

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A leucemia é uma proliferação de células malignas na medula óssea e no sangue. Ela apresenta muitas formas, incluindo leucemia promielocítica aguda altamente progressiva. Particularmente grave, ela atinge pessoas de todas as idades. As células da medula óssea destes pacientes são portadoras de uma anomalia específica de dois cromossomos. Eles levam à síntese de uma oncoproteína chamada PML/RARA e permitem a proliferação de células malignas. Esta oncoproteína comandada por um gene alterado é susceptível de desencadear um tumor.

A eficácia incrível de trióxido de arsênico (As2O3) no tratamento da leucemia promielocítica aguda foi destacada na China nos anos 90. Sabemos agora, graças aos trabalhos anteriores da equipe de Hugh de Thé, que este derivado do arsênico induz, de forma específica, à degradação da oncoproteína PML / RARA e à eliminação de células-tronco leucêmicas, segmento desta proteína. Isto é um pouco como matar as células-tronco cancerosas, destruindo a proteína que as faz viver. Mas os mecanismos precisos ainda são pouco compreendidos, principalmente o papel exato de um peptídeo SUMO que se liga à proteína anormal.

Hugues de Thé e sua equipe mostraram que o arsênico induz a um estresse oxidante. Este estresse faz com que ocorra a liberação de radicais livres que, por sua vez, favorece a criação de ligações fortes (pontes dissulfeto) entre as proteínas PML/RARA, que então se agregam. As proteínas interligadas favorecem a fixação do peptídeo SUMO, o qual desencadeia a degradação delas. Paralelamente, o arsênico se vincula diretamente à oncoproteina, e também reforça as interações nos agregados ajudando na sua destruição. Esses resultados, portanto, explicam a especificidade da ação do arsênico na leucemia promielocítica aguda.

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