Foto do(a) blog

Para explicar o mundo ao seu redor

Coluna de Psicologia: a família como instituição, necessidade e função

Psicóloga Regiane Canoso começa o ano falando sobre o ambiente de geração dos significados, referência de cada indivíduo.

PUBLICIDADE

Por root
Atualização:

Bom, resolvi iniciar os textos que escrevo falando da família, vamos lá ao assunto...

PUBLICIDADE

É impossível entender o grupo familiar sem considerá-lo dentro da complexa trama social e histórica que o envolve. A partir disso, podemos considerar alguns fatos. O primeiro é que a família não é algo natural, biológico, mas uma instituição criada pelos homens, que se constitui de formas diferentes em situações e tempos diferentes, para responder às necessidades sociais. Sendo uma instituição social, possui também para os homens uma representação que é socialmente elaborada e que orienta a conduta de seus membros.

O segundo é que a família, qualquer que seja sua forma, constitui-se em torno de uma necessidade material: a reprodução. Isso não significa que é necessário haver uma determinada forma de família para que haja a reprodução, mas que esta é a condição para a existência da família.

O terceiro fato a se considerar é que, além de sua função ligada à reprodução biológica, a família exerce também uma função ideológica. Isto significa que, além da reprodução biológica, ela promove também sua própria reprodução social: "é na família que os indivíduos são educados para que venham a continuar biológica e socialmente a estrutura familiar".

Ao realizar seu projeto de reprodução social, a família participa do mesmo projeto global, referente à sociedade na qual está inserida. É por isso que ela também ensina como se comportar fora das relações familiares em toda e qualquer situação.

Publicidade

O mundo da família é o ambiente de geração de significados que vão constituir um sistema de significados. O surgimento de significados nessa nova unidade relacional permite a fundação do mundo da família, constituindo-se no horizonte referencial na vida da família e de cada um de seus membros.

Estar vivendo nesse mundo revela uma relação contínua e dinâmica com outros seres humanos, integrando e definindo a unidade de relação complexa que é a família, sobre a base de sentimentos de referência que seu mundo torna possível. No mundo da família são possíveis, ao mesmo tempo, uma história de vida particular de cada membro e uma história de vida compartilhada. Esta história de vida compartilhada tem características próprias faz com que cada indivíduo se torne o ser da família.

A família tem estado em evidência. Por um lado, ela tem sido o centro de atenções por ser um espaço privilegiado para arregimentação e fruição da vida emocional de seus componentes. Por outro, tem chamado atenção, pois, ao mesmo tempo em que, sob alguns aspectos, mantém-se inalterada, apresenta uma gama de mudanças.

É comum ouvirmos referências sobre a "crise familiar", o "conflito de gerações", a "morte da família", e isso suscita polêmicas. Para alguns, família é a base da sociedade e garantia de uma vida social equilibrada, célula sagrada que deve ser mantida intocável a qualquer custo. Para outros, a instituição familiar deve ser combatida, pois representa um entrave ao desenvolvimento social: é local onde as neuroses são fabricadas e onde se exerce a mais implacável dominação sobre crianças e mulheres.

O que não pode ser negado é a importância da família tanto ao nível das relações sociais, nas quais ela se inscreve, quanto ao nível da vida emocional de seus membros.

Publicidade

Compartilhando as ideias de REIS, considero que é na família, mediadora entre o indivíduo e a sociedade, que aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos nele. É a formadora da nossa primeira identidade social. Ela é o primeiro "nós" a quem aprendemos a nos referir. Com isso, os relacionamentos iniciais são a base para uma estrutura emocional. Vale a pena dizer que as experiências vividas das crianças com seus cuidadores, em relação à aproximação ou ao distanciamento, podem ser entendidas como as mais significativas e responsáveis pela formação das estruturas infantis. Os processos de vinculação são importantes no desenvolvimento da saúde mental, e qualquer situação inadequada na relação criança-cuidador proporcionará condições poucos adequadas à manutenção do equilíbrio psicológico. Toda relação entre criança-cuidador, quando estruturada, será sentida como equilibrada e tranquila, ou, caso seja o contrário, será dolorosa e insatisfatória.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Quando fala em cuidador, refere-se à pessoa designada a tranquilizar todas as necessidades do bebê, da criança em especial à mãe, numa relação em que ambos encontrem satisfação e prazer.

Uma criança não é um organismo de vida independente e, por isso, necessita de uma instituição social especial que a ajude durante o período de imaturidade. Sendo assim, esta instituição sentida e entendida como família, deve auxiliar a criança de duas maneiras: no primeiro momento ajudando a criança a satisfazer suas necessidades imediatas, tais como alimentação, abrigo e proteção; e num segundo momento proporcionando a criança um ambiente no qual possa desenvolver ao máximo suas capacidades físicas, mentais e sociais, para poder lidar eficazmente, quando adulta, com o seu meio físico e social. Para que isso ocorra é necessário um ambiente de afeição e segurança.

Conforme a criança vai crescendo, ela vai construindo, criando, de acordo com suas próprias significações, crenças, costumes, necessidades, possibilidades, uma forma que a ajude a viver a sua vida, e poder ser ela mesma. Todo estudo que se fizer do indivíduo terá sempre que se remeter ao grupo ao qual ele pertence, à classe social, enfocando a relação dialética homem-sociedade, atentando para os diversos momentos dessa relação.

Há momentos na história da família em que o sistema de relacionamento pode encontrar-se interrompido com alguns integrantes da família. Isso se deve a discordância em suas possibilidades de ser, de perceber, de compreender e interpretar seu mundo individual e seu mundo familiar.

Publicidade

Um abraço a todos os leitores. Volto com mais textos em breve...

- - LEIA AS COLUNAS ANTERIORES DE REGIANE CANOSO - -

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.