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Descoberta hemoglobina vilã que dispara sepse grave

Grupo heme, liberado pelos glóbulos vermelhos durante uma infecção, é responsável pela perda de funções dos órgãos.

Por taniager
Atualização:

A sepse grave, uma doença caracterizada por uma queda repentina da pressão sanguínea e perda progressiva das funções de órgãos vitais após infecção, continua a ser uma das causas de morte mais comuns em unidades de cuidados intensivos em todo o mundo. A taxa de mortalidade varia entre 30-70%, mesmo nas melhores condições médicas. Agora uma equipe de pesquisadores do Instituto Gulbenkian de  Ciência (IGC), em Portugal, liderada por Miguel Soares, descobriu que o grupo heme, liberado pelos glóbulos vermelhos durante uma infecção, é responsável pela perda de funções dos órgãos.  Além disso, esta equipe descobriu também uma forma eficaz de neutralizar o efeito tóxico do grupo heme através duma molécula que existe naturalmente no organismo, a hemopoxina. Estas descobertas, publicadas na última edição da revista científica Science Translational Medicine, abrem portas para uma nova forma de monitorização e eventual tratamento da sepse grave.

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Na maioria dos casos, a sepse grave é disparada por uma infecção, isto é quando o nosso corpo é invadido por um micróbio patogênico. Esta doença resulta de uma reação incontrolada contra o agente infeccioso, e não pelo agente patogênico propriamente dito. Miguel Soares e os seus colegas descobriram, recorrendo ao camundongo como modelo de estudo, que a hemoglobina é o suspeito improvável por detrás desta reação. A hemoglobina, que transporta o oxigênio no sangue, encontra-se no interior dos glóbulos vermelhos. Está associada a quatro moléculas, os grupos heme, cada um dos quais aloja um átomo de ferro que agarra o oxigénio. Contudo durante o desenvolvimento desta doença, a hemoglobina é libertada do interior dos glóbulos vermelhos (um processo denominado de hemólise) e os grupos heme, agora livres em circulação, tornam-se tóxicos. São os grupos heme que podem então danificar gravemente vários órgãos, afetar a sua função e conduzir eventualmente à morte do paciente.

Rasmus Larsen, principal autor do artigo, explica "Primeiro demonstramos o papel nocivo para os órgãos do grupo heme durante uma sepse grave. Descobrimos ao mesmo tempo, que os níveis de hemopoxina, a molécula que neutraliza o grupo heme, decrescem quando o heme se acumula no sangue sugerindo que este poderá ser um modo de controlar os efeitos nocivos destegrupo. Estabelecemos então uma colaboração muito produtiva com Ann Smith (Universidade de Missouri, EUA) que estuda a hemopoxina há muitos anos. Ela enviou-nos esta proteína que administramos aos camundongos que estavam desenvolvendo sepse grave. Verificamos que o estado de saúde destes animais melhorou significativamente, e a maioria dos  ratinhos tratados com hemopoxina sobreviveu, contrário ao que aconteceu com os não tratados".

Esta equipe foi ainda mais longe: em colaboração com Fernado Bozza da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, Brasil, demonstraram que entre os pacientes diagnosticados nas unidades de cuidados intensivos com sepse grave, aqueles que não sobreviviam tinham um baixo nível de hemopoxina circulante, quando comparado com os que sobreviviam, reforçando as observações feitas por Rasmus Larsen no IGC. Miguel Soares e Rasmus Larsen explicam: "Estas observações sugerem que a hemopoxina pode ser usada como indicador de mortalidade em pacientes que desenvolvem sepse grave: se os níveis de hemopoxina são muito baixos, espera-se uma progressão negativa da doença, talvez letal para estes doentes".

Estas descobertas poderão conduzir a uma nova estratégia de tratamento para a sepse grave. Miguel Soares continua: "Enquanto muitos medicamentos são eficazes para destruir os agentes patogênicos que provocam a sepse grave, por si só, esta abordagem não é suficiente para prevenir a morte. A administração de hemopoxina, que protege a destruição dos órgãos, abre portas para um método alternativo para o tratamento da doença, que potencialmente pode salvar as vidas de milhares de pacientes em unidades de cuidados intensivos em todo o mundo".

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 Este estudo contou com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal), da GEMI Fund Linde Healthcare (EUA), do Sexto Porgrama Quadro e do Programa Marie Curie, da Comissão Europeia, e ainda da Universidade de Missouri (EUA) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e FAPERJ (Brasil).

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