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Atenção cientistas: Ninguém liga pro seu sapo!

Provocação é do cineasta Fernando Meirelles, no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Ele falou sobre a dificuldade dos cientistas de se comunicarem com o público sobre temas como biodiversidade e mudanças climáticas. Para Meirelles, os pesquisadores precisam deixar os números de lado e aprender a contar histórias: “O que pega as pessoas é o recado emocional. Se o sapinho não tiver nada a ver comigo, não me interessa.”

Por Herton Escobar
Atualização:

Fernando Meirelles no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Foto: Adalberto Rodrigues

Cientistas precisam aprender a se comunicar com o público por meio de histórias, não de estatísticas, disse o cineasta (e ambientalista) Fernando Meirelles. Por exemplo: Não adianta falar que um sapo está ameaçado de extinção se a pessoa que está ouvindo não sabe nada sobre a história daquele bicho. "O cara não está nem aí pro seu sapo", falou Meirelles, na lata, para um auditório lotado com mais de 1 mil pessoas -- todas cientistas e ambientalistas -- no 8º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Curitiba. "O que pega as pessoas é o recado emocional. Se o sapinho não tiver nada a ver comigo, não me interessa."

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Não que ele próprio não se interesse. Pelo contrário: "Estou me tornando cada vez menos cineasta e mais ambientalista", afirmou. A razão? "Desespero!"; de ver a destruição da biodiversidade e da natureza seguir em frente, sem que as pessoas se dêem conta do que está acontecendo.

A extinção de espécies (inclusive daquele sapinho do qual você nunca ouviu falar) tem um impacto direto no funcionamento dos ecossistemas dos quais dependemos para sobreviver, como as florestas, rios e oceanos (apesar de tudo isso parecer muito distante e muito desconectado da gente). Mas não é falando só de trabalhos científicos que os cientistas vão convencer as pessoas a se importar, pontuou Meirelles.

Cientista é um bicho muito louco. Vocês ficam falando só entre vocês."

"Não adianta só números, estatísticas, planilhas ... se não vocês estão falando só pra sua tribo", disse. "O único jeito (de engajar as pessoas) é contar histórias", completou -- que é o que ele faz em seus filmes, como Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira e O Jardineiro Fiel. Histórias com personagens e narrativas com os quais o público consiga se identificar, mesmo que elas, superficialmente, pertençam a uma realidade completamente diferente. "Cientista é um bicho muito louco", disse. "Vocês ficam falando só entre vocês."

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Um tema onde essa dificuldade de comunicação se faz presente de forma muito clara é o das mudanças climáticas. O problema já é estudado há décadas, e não faltam evidências científicas para mostrar que ele é real, urgente, extremamente sério e vai impactar a todos. Mas a comunicação da ciência com o público e com os governantes continua sendo muito difícil ... muito cheia de números, gráficos e estatísticas. Segundo Meirelles, é preciso apelar para o lado emocional das pessoas, e não apenas o racional. Ele citou o exemplo do Greenpeace, que no passado impactou muito mais a opinião pública com ativistas se acorrentando a árvores do que com estudos científicos.

Veja o lado positivo das coisas ... (mesmo quando parece não haver nenhum)

Além de simplificar as coisas, disse o cineasta, é preciso dar esperança às pessoas -- especialmente em situações dramáticas como a extinção de espécies ou o aquecimento global, que muitas vezes nos dão a impressão de ser uma causa perdida. Em outras palavras: mesmo que só reste um dedinho de água no copo, foque mais na parte cheia do que na vazia. "Se for só pessimismo vira filme europeu; ninguém vai assistir", brincou. "Se não tiver notícia boa pra dar, prometa uma boa notícia. Você tem que dar um saída, dar uma esperança, mostrar como é possível ajudar; se não a pessoa desanima, se sente impotente."

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