Dois mapas que "vazaram" hoje nas redes sociais, mostrando os limites das novas áreas protegidas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo e da Ilha Trindade, não são os mapas finais que o governo está propondo para essas novas unidades de conservação, segundo informações obtidas pelo blog.
Os mapas causaram indignação na comunidade científica e ambientalista, por excluir as ilhas e a maior parte dos seus respectivos entornos marítimos da zona de proteção -- protegendo apenas áreas de oceano aberto. Pois é justamente nessas áreas mais rasas e costeiras que estão localizados os ambientes ecologicamente mais ricos, sensíveis, diversificados e carentes de proteção das ilhas.
Mapas que circularam nas redes sociais excluem as ilhas das zonas de proteção propostas. Fonte: Reprodução das redes sociais
Segundo o Estado apurou, os mapas são reais e refletem a preferência de uma das partes envolvidas no processo (mais especificamente, a Marinha do Brasil), mas não são uma proposta final do governo e não foram apresentados publicamente no World Ocean Summit, que está em curso no México, como se divulgou nas redes sociais.
"Não existe uma proposta da Marinha e outra do Ministério do Meio Ambiente; é uma negociação que está em curso, envolvendo diversos atores, incluindo a Presidência da República", disse o secretário de Biodiversidade do MMA, José Pedro de Oliveira. "Vários desenhos já foram propostos e esse é um deles, mas o desenho final só poderá ser definido após o término das consultas públicas (no dia 10)."
Segundo Zé Pedro, "não existe a possibilidade de as ilhas ficarem sem proteção" -- mas os limites exatos de cada área protegida ainda estão em negociação. "O MMA está batalhando para ter a maior área possível de proteção integral em torno das ilhas. O ministro Sarney Filho está profundamente empenhado nisso", disse o secretário.
"Não houve nenhuma divulgação oficial desses mapas", disse o representante do ICMBio na conferência do México, Claudio Maretti. O que houve, segundo ele, foi uma coletiva de imprensa envolvendo representantes de quatro países (Brasil, Canadá, México e Chile), na qual ele divulgou um press release e mostrou um mapa genérico com a localização das novas áreas marinhas protegidas, sem entrar em detalhes sobre os limites internos de cada unidade -- até porque esses limites não estão definidos.
"A situação de negociação existe", confirmou Maretti ao blog. "E nunca negamos que é uma negociação dura." Ele disse não saber qual foi a fonte de "vazamento" dos mapas.
Amanhã (sexta-feira, 9) será divulgado no evento do México o vídeo com a declaração do presidente Michel Temer sobre as novas áreas protegidas, que já está circulando nas redes sociais -- inclusive nos canais oficiais do Palácio do Planalto (veja abaixo).
Procurada pela reportagem, a Marinha afirmou em nota que: "Os traçados dos referidos mapas apresentados resultam de um acordo entre o Ministério do Meio Ambiente e a Marinha do Brasil, com o propósito de conciliação da preservação de Soberania e Defesa Nacional e da biodiversidade."
"A proposta apresentada nos mapas que vieram a público inviabiliza totalmente qualquer ação de conservação de longo prazo", diz uma carta assinada por 15 cientistas, enviada ao presidente Temer, aos ministros do Meio Ambiente, da Defesa, e ao comandante da Marinha:
-- Texto atualizado às 7h do dia 9; e novamente às 11h do dia 10 (com o posicionamento da Marinha).