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Navio histórico da USP deve virar naufrágio em Ihabela

Conselho Universitário aprovou a alienação do navio Prof. W. Besnard, que agora poderá ser doado para a administração do balneário paulista. Prefeito quer afundar embarcação para transformá-la em recife artificial e ponto de mergulho. Navio foi pioneiro da oceanografia brasileira, mas está encostado no Porto de Santos desde 2008, quando sofreu um incêndio.

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Por Herton Escobar
Atualização:

O navio Prof. W. Besnard em 2014, no canal do Porto de Santos, onde permanece atracado há vários anos. Foto: Marcio Fernandes/Estadão

O navio de maior história da ciência brasileira está a caminho de se tornar um atrativo de peixes e mergulhadores no fundo do mar de Ilhabela, no litoral norte paulista.

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O Conselho Universitário da Universidade de São Paulo aprovou na sua última reunião (terça-feira, 19/4) a alienação do navio de pesquisa Prof. W. Besnard, do Instituto Oceanográfico da USP, que foi o "barco-chefe" da oceanografia brasileira durante mais de 40 anos, até ser aposentado por conta de um incêndio, em novembro de 2008. Desde então, a histórica embarcação permanece encostada no canal do Porto de Santos, aguardando uma definição sobre o seu destino final.

Tudo indica, agora, que esse destino é ser rebocado para a ponta sul de Ilhabela, para ser afundado e se juntar às carcaças de outros navios históricos que repousam por ali. Pelo menos é o que deseja o prefeito da ilha, Toninho Colucci. Foi ele quem solicitou à USP a alienação do navio, para que ele possa ser doado para o município.

"Ficamos muito felizes com a decisão da universidade", disse Colucci ao Estado, por telefone, após a votação do conselho. "Agora vamos dar início à implementação do projeto." A ideia é afundar o navio sobre um leito de areia, a 25 metros de profundidade, entre as chamadas Ponta da Sela e Ponta de Itapecirica, na parte sul da ilha, para transformá-lo num atrativo de mergulho turístico e recife artificial para a vida marinha.

 Foto: Estadão

A alienação confere ao Instituto Oceanográfico (IO) autonomia para fazer o que achar melhor com o navio. Enquanto a doação não for oficializada, porém, o Besnard continua sendo de responsabilidade da instituição.

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Uma responsabilidade da qual a universidade quer se desfazer o mais rápido possível -- apesar do carinho histórico que seus pesquisadores nutrem pela embarcação, que carregou a oceanografia brasileira nas costas durante tantos anos e teve papel fundamental no desenvolvimento das ciências marinhas no país. Foi o primeiro navio a levar pesquisadores brasileiros para a Antártida, entre outros feitos pioneiros.

O navio em janeiro de 2013. Foto: Marcio Fernandes/Estadão

Para mais detalhes sobre a história e as especificação do navio, clique aqui: Prof. Besnard: Um marco na Oceanografia brasileira (página do IO-USP)

Com 49 metros de comprimento e 4 laboratórios, o Besnard tinha autonomia de 15 dias e acomodava 15 pesquisadores. Foi construído em Bergen, na Noruega, em 1967. Seu nome é uma homenagem ao professor Wladimir Besnard, que foi o primeiro diretor do IO-USP e "pai" do projeto do navio -- mas que não sobreviveu para vê-lo chegar ao Brasil (morreu em 1960).

Nos últimos anos, a destinação do navio virou uma novela. Cogitou-se transformá-lo em barco-escola, em museu, em recife artificial, e até vendê-lo como sucata (algo que não é mais possível, pois o ferro dele vale tão pouco que não compensaria o custo de desmontá-lo). Vários interessados apareceram, mas nenhuma proposta se concretizou. Em dezembro de 2014, o Conselho Universitário chegou a votar a doação do navio para o governo do Uruguai, mas o negócio também não prosperou.

Um dos problemas é o custo financeiro, técnico e burocrático de retirar o navio do porto. O prefeito de Ilhabela, disse que está determinado a adquirir o navio, que já tem algum dinheiro reservado para isso e está buscando parceiros para pagar o resto da conta. Segundo ele, o professor Wladimir Besnard (primeiro diretor do IO-USP, que dá nome ao navio) tinha uma casa de veraneio na ilha.

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Todas as peças históricas já foram retiradas do navio pela universidade, para serem preservadas. Só resta mesmo o casco. Um pequeno grupo de pesquisadores se reuniu no navio em fevereiro para dar adeus a ele.

Cabine de comando em 2014, antes de ser desmontada. Foto: Marcio Fernandes/Estadão

Sino com a data de batismo do navio, que foi construído na Noruega. Foto: Marcio Fernandes/Estadão
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