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Imagine só!

ORGULHO DE SER VIRA-LATA

FOTO: Eduardo Nicolau/AE

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Por Herton Escobar
Atualização:

Poucos temas em ciência podem ser chamados de tabu. A existência de raças humanas é um deles.

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Pois é justamente sobre isso que vou escrever hoje, na semana em que se comemora o aniversário de 150 anos da publicação de A Origem das Espécies, por Charles Darwin (em 24 de novembro de 1859).

Imagine só: Há mais de 6 bilhões de pessoas vivendo sobre o planeta hoje, e nenhuma delas é igual a outra. Ao mesmo tempo, porém, somos todos muito parecidos. Somos todos seres humanos, todos membros de uma mesma espécie, Homo sapiens, não importa o quão diferentes possamos parecer do lado de fora. Brancos, negros, amarelos, baixinhos, gordinhos, altos, magros, loiras, morenas ... não importa. As diferenças são puramente superficiais. Por dentro, em nossa estrutura óssea, nossos órgãos vitais, nossas células e nosso DNA, somos todos, inegavelmente, Homo sapiens.

Dito isso, onde é que entra a tal discussão das raças? Pois então ... por mais que as diferenças sejam superficiais, não há como negar que elas existem. (Ainda bem! Já pensou se todo mundo fosse igual? Seria uma chatice.)

Mas qual é a importância dessas diferenças? Vale a pena prestar atenção nelas, do ponto de vista científico?

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Imagine, por exemplo, se um biólogo alienígena descesse à Terra para coletar alguns exemplares da espécie humana e levá-los de volta para o seu zoológico em outro planeta. Que tipo de pessoa ele deveria coletar? Quem seria o melhor representante da espécie humana? A Gisele Bundchen? A Taís Araújo? O Shaquille O'neal? O Ronaldinho Gaúcho? O Kaká? Um pigmeu africano? Um aborígene australiano? Um índio da Amazônia? Um corredor de maratona? Ou um lutador de sumô?

A resposta certa é: Qualquer um serve! Qualquer um deles é tão Homo sapiens quanto o outro. Essa é uma das maravilhas da nossa espécie: a diversidade.

Para entender isso é preciso uma rápida revisão (super resumida) sobre genética evolutiva, seleção natural e migrações humanas.

Capítulo 1: A espécie Homo sapiens se desenvolve na África, cerca de 200 mil anos atrás. No início somos todos negros, porque a pele escura proporciona melhor proteção contra a radiação solar e aumenta a chance de sobrevivência dos indivíduos com mais melanina (naquela época ainda não tinha Coppertone).

Capítulo 2: A população da espécie aumenta e grupos de Homo sapiens começam a migrar para outros continentes. À medida que mudam as condições ambientais, mudam também as características que são selecionadas pela seleção natural. Na Europa, por exemplo, onde a exposição à radiação solar é muito mais limitada do que na África, a pele escura deixa de ser vantajosa. Os indivíduos com maior chance de sobrevivência são aqueles de pele mais clara, que conseguem aproveitar melhor a luz do sol disponível para produção de vitamina D e outras coisas essenciais ao organismo.

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Capítulo 3: Milhares de anos de adaptação a diferentes condições ambientais em diferentes regiões do planeta dá origem a diversos "tipos" (raças?) de Homo sapiens, que são o que hoje chamamos de brancos, negros, amarelos, etc.

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Ok ... então qual é o grande problema em falar em raças humanas? Os cachorros e os gatos domésticos também são todos membros de uma mesma espécie (Canis lupus familiaris e Felis catus, respectivamente) e não temos o menor problema em classificá-los em raças.

O problema principal nos humanos é que essa palavra tem uma bagagem social muito forte. Uma bagagem "racista", para ser mais exato. Tão pesada que é quase impossível falar na existência de raças sem ser acusado de racista. Infelizmente, sempre vai ter alguém que vai tentar usar essas diferenças superficiais para dizer que uma raça é melhor do que a outra (como já foi feito várias vezes no passado, com resultados desastrosos).

Algo que, como eu tentei mostrar no início deste texto, não faz o menor sentido.

Quando leio sobre isso e converso com cientistas sobre o assunto, percebo três linhas de pensamento: Há aqueles que acham que não existem raças (porque as diferenças são tão supérfluas que não faz sentido cientificamente essa classificação). Há aqueles que acham que existem raças e que essas diferenças devem ser estudadas para fins "pacíficos", digamos assim (para saber, por exemplo, se determinadas raças têm propensões diferentes a doenças e respondem de forma diferente a tratamentos específicos). E há aqueles que acham que existem raças, mas melhor deixar isso quieto porque só serve para criar confusão. É aí que a coisa virou tabu.

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Um ponto de vista que me parece bem razoável, que ouvi recentemente de um pesquisador, é que já existiram raças, sim, mas que elas desapareceram (ou estão desaparecendo) pela miscigenação crescente das culturas e das populações mundiais.

Veja o caso do Brasil! Aqui não faz o menor sentido falar em raças. O brasileiro é uma mistura de tudo. De branco, de negro, de índio, de amarelo, de português, de espanhol, de africano, de holandês, de alemão, de italiano, de árabe, de judeu e por aí vai ... Somos todos um bando de vira-latas raciais e culturais! Com muito orgulho! (pelo menos da minha parte)

Pensando bem, talvez o brasileiro seja o melhor espécime de zoológico para o nosso biólogo alienígena.... Alguém se habilita?

Abraços a todos, e desculpem pelo post tão longo.

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