de LINHARES, ES
Em meio ao caos ambiental gerado pela passagem da onda de lama no Rio Doce, pesquisadores podem ter encontrado uma boa notícia: uma possível nova espécie de peixe. A descoberta foi feita no último lote de peixes resgatados antes da chegada da lama no município de Linhares (ES), na manhã do dia 20.
Segundo o zootecnia Marcelo Polese, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES), seria uma nova espécie do gênero Brycon, parecida com a pirabanha (Brycon opalinus, também chamada popularmente de piabanha ou pirapitinga do sul), uma espécie rara do Rio Doce. Polese e outros pesquisadores que participaram do esforço de resgate de peixes nativos do rio, organizado pelo Ibama, notaram que o formato do corpo do animal era um pouco diferente e que ele não tinha uma pinta preta característica na cauda. Resolveram olhar mais de perto e concluíram se tratar de uma nova espécie -- hipótese que ainda precisará ser confirmada por análises morfológicas e genéticas mais detalhadas. (Atualização: veja contraponto do pesquisador Fábio Vieira, abaixo).
Polese conversou com a reportagem do Estado enquanto fazia uma análise de necrópsia num outro peixe: uma curimba de aproximadamente 1,3 kg, que morreu no processo de captura, antes da chegada da lama. Ele retirava o fígado e as gônadas do peixe, para análises de toxicidade e maturidade reprodutiva, respectivamente; e analisava visualmente as brânquias do animal -- que neste caso estavam limpas. A ideia agora é coletar peixes mortos após a chegada da lama para fazer uma comparação desses parâmetros e ter uma ideia de como os sedimentos estão impactando os peixes no rio.
Centenas de peixes de espécies nativas do Rio Doce foram coletadas na semana passada e levadas para tanques improvisados no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). A proposta é manter esses peixes em cativeiro como um "banco genético" da biodiversidade original do rio, caso ele precise ser repovoado após a passagem da lama. Alguns animais também foram enviados de lá para o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta) do ICMBio em Pirassununga, no interior paulista -- incluindo o da nova espécie.
O Rio Doce possui mais de 70 espécies nativas de peixes, mas a maior parte da sua biomassa é de espécies exóticas, como o dourado, a tilápia e a carpa. Quer dizer: se você pegasse todos os peixes do rio e os colocasse numa balança, os peixes exóticos pesariam muito mais do que os nativos -- sinal de um desequilíbrio ecológico.
Contraponto. O especialista em peixes Fabio Vieira acredita, com base na foto divulgada, que o peixe em questão seja o Brycon amazonicus, uma espécie já conhecida e nativa da Amazônia (ou seja, exótica ao Rio Doce), que tem sido liberada em vários rios brasileiros.
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*Correção: Uma foto publicada originalmente neste espaço era de uma outra espécie, já conhecida.
Post atualizado às 17h do dia 25.