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Imagine só!

SEMENTES NÃO BASTAM

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Por Herton Escobar
Atualização:

A Rio+20 termina só no dia 22, mas a diplomacia brasileira, que agora comanda as negociações, prometeu apresentar até o fim do dia de hoje o documento final que descreverá os resultados da conferência. Uma promessa que me parece, a princípio, um tanto utópica ou até fantasiosa, pois as negociações nesse tipo de conferência da ONU costumam se arrastar quase sempre até o último minuto possível, quando todos os diplomatas e jornalistas já estão pedindo por favor para ir embora.

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Como jornalista, portanto, torço para que o Brasil cumpra sua promessa, convença os outros países a chegarem a um consenso, e feche o documento ainda hoje, o mais cedo possível. Já cansei de varar madrugadas nesse tipo de cobertura.

Como ser humano, habitante do planeta Terra, porém, torço para que a promessa seja quebrada ou que, pelo menos, as negociações hoje se arrastem até o mais tarde possível, madrugada adentro.

Por quê? Não, não fiquei louco nem virei sadomasoquista ... O problema é que o rascunho apresentado no sábado pelo Brasil como base para negociação do acordo final é extremamente vago e genérico. E se as negociações forem mesmo encerradas hoje, como deseja o Itamaraty, isso significa que o rascunho será pouco alterado, e que o documento final da conferência será provavelmente igualmente vago e genérico.  Fraco. E será difícil não classificar a conferência como um fracasso, dadas as expectativas da sociedade com relação a ela.

A diplomacia brasileira, muito respeitada no mundo, fez um trabalho louvável no sentido de buscar o consenso, produzindo um documento com possibilidades realistas de ser aprovado pelos 193 países membros da ONU representados nas negociações(lembrando que todas as decisões têm de ser adotadas por consenso absoluto ... nenhum país pode discordar de nada). Ao buscar esse consenso, porém, foi obrigada a produzir um texto pouco ambicioso, sem nenhuma revolução substancial capaz de mudar o planeta do seu rumo atual e colocá-lo no caminho do desenvolvimento sustentável.

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Não obriga ninguém a fazer nada de radical. Não inclui comprometimento com dinheiro, com tecnologia, com novos modelos econômicos, nem com mudanças significativas nos padrões de produção e consumo. Na prática, não muda quase nada. Como disseram algumas ONGs, trata do Futuro que Teremos, e não do Futuro que Queremos, como diz o título do documento.

O que o texto faz é reconhecer, mais uma vez, que os problemas existem, que eles são graves e que precisam ser solucionados. Só faltam as soluções. Ele propõe plantar algumas sementes importantes como, por exemplo, a que abrirá discussões para a definição dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), até 2014, para substituir os atuais Objetivos do Milênio, que vencem em 2015. Também planta uma semente para o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para a negociação de um tratado internacional sobre águas internacionais e para a criação de uma Estratégia Financeira de Desenvolvimento Sustentável, com o intuito de auxiliar os países em desenvolvimento a se desenvolverem de maneira sustentável.

Se essas sementes germinarão em algo realmente significativo para o planeta nos próximos anos, sabe-se lá. Vai depender, como sempre, de mais e mais negociações. A culpa não é do Brasil; é do ser humano. Para uma conferência do porte da Rio+20, espera-se mais do que sementes. Espera-se árvores, ou pelo menos algumas mudas. Se não, vamos acabar todos mesmo debaixo da terra. Morrer na praia, já que estamos no Rio de Janeiro, nadando contra a corrente.

Para mais detalhes sobre o documento de negociação, vejam minha reportagem de hoje no Estadão.

Abraços a todos.

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