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Imagine só!

TAPA NA CARA, PARA ACORDAR

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Por Herton Escobar
Atualização:

Para despertar o blog de sua longa hibernação submarina, aqui vai uma notícia triste e selvagem, diretamente de Kuala Lumpur, na Malásia (onde estou agora).

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As organizações Traffic e WWF divulgaram hoje um vídeo-documentário sobre os desafios de conservação do tigre-da-malásia na região do Parque Estadual Royal Belum e da Reserva Florestal de Temenggor, no norte do país, divisa com a Tailândia. O problema aqui é incomodamente familiar à realidade brasileira: muita floresta, muito bicho e muito caçador para pouco dinheiro, pouca infra-estrutura e pouca fiscalização. Só o Royal Belum tem 1.175 km2 - bem pequeno em comparação com parques da Amazônia brasileira, mas enorme para um país do tamanho da Malásia, e quase duas vezes o tamanho de Cingapura, o país vizinho ao sul (que, aliás, eliminou a Malásia das Eliminatórias da Copa do Mundo ontem, para tristeza nacional). O parque vive infestado de caçadores, mas tem apenas 9 guarda-parques para cuidar dele.

"Imagine se Cingapura tivesse só 9 policiais para manter a segurança do país", comparou William Schaela, diretor regional da rede Traffic para o sudeste asiático. (Mais uma vez, há parques muito maiores no Brasil que adorariam ter 9 guarda-parques, mas só porque nós não temos nada não significa que outros tenham de se contentar com pouco, não é mesmo? -- Para mais informações, veja matéria publicada recentemente pela minha colega Afra Balazina, sobre a falta de funcionários nas unidades de conservação do Brasil.)

O Royal Belum, coberto de floresta tropical, tem uma biodiversidade incrível. Mas a sua grande estrela, sem dúvida, é o tigre-da-malásia (Panthera tigris jacksoni). Um animal espetacular, como todo grande felino. E igualmente cobiçado e ameaçado pela sua beleza. Os pesquisadores não sabem exatamente quantos felinos vivem na região (a estimativa é de 40 a 50 tigres, somando as populações de Royal Belum e Temenggor, que juntos têm mais de 3 mil km2, segundo o biólogo Mark Rayan Darmaraj, da WWF, que está fazendo um estudo sobre isso para sua tese de doutorado). Mas sabem que eles estão sendo caçados de forma cruel e persistente em ambas as áreas "protegidas" - como vocês podem ver no vídeo.

E o pior é que esses tigres não são mortos para servir de comida nem proteger rebanhos de agricultores pobres ou qualquer coisa assim. São mortos pela sua pele, seus dentes e seus ossos, que os chineses acreditam ter propriedades medicinais antiinflamatórias. Que provavelmente não têm ... mas mesmo que tivessem ... precisa mesmo matar um tigre para curar uma inflamação? Nos dias de hoje?

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No caminho de volta da coletiva de imprensa para o meu hostel, conheci um senhor taxista muito simpático, de 71 anos, muito conversador, que queria saber tudo a meu respeito. Disse que era jornalista, brasileiro, que estava viajando a trabalho pelo sudeste asiático e que de Kuala Lumpur iria, amanhã, para a região de Sarawak, no norte de Borneo, para ver animais selvagens lá. Ele ficou todo entusiasmado com a palavra "wildlife" (vida selvagem) e disse que queria muito também poder ir para a África ou para a Amazônia, ver animais selvagens com os próprios olhos. Aí eu disse: "Mas o senhor tem um monte de "wildlife" aqui no seu país mesmo. Inclusive o tigre-da-malásia, etc e tal. Não precisa ir até a África para isso." Acreditem se quiser, mas acho que ele não acreditou. Ou, pelo menos, não pareceu muito entusiasmado com a notícia.

Muitos criticam as ONGs internacionais por tentar proteger a biodiversidade dos outros. Mas a verdade é que muitas vezes não damos o devido valor ao que nós mesmos temos. Ou nem nos damos conta do que temos. Até que vem alguém de fora e nos dá um tapa na cara. Acorda!

Abraços a todos.

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