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Universidades brasileiras, em busca da excelência (Parte 3)

ENREVISTA: João Grandino Rodas, reitor da USP

Por Herton Escobar
Atualização:

por Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

 Foto: Estadão

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1. O que o senhor apontaria como principal diferencial da Caltech, Harvard, Stanford, MIT e outras universidades que estão constantemente no topo dos rankings internacionais? O que elas fazem que nós não estamos fazendo nas universidades brasileiras?

Os Estados Unidos da América possuem o maior contingente no âmbito das duzentas universidades melhores do mundo, consoante os rankings internacionais. Algumas das razões para tal liderança são apontadas a seguir. Esse país investe 3,1% de seu Produto Interno Bruto em educação superior, enquanto que os demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico investem apenas 1,5%. Os rankings privilegiam publicações em inglês, o que influencia negativamente o desempenho de outros países, mormente os da América Latina, já que poucos acadêmicos desejam ou estão aptos a publicar em língua inglesa. A maturidade ajuda as universidades mais antigas na atração dos melhores professores e estudantes, em busca da excelência acadêmica. Tanto assim que as dez universidades mais bem posicionadas do mundo foram fundadas antes de 1900. A metodologia usada pelos rankings internacionais tem como um dos principais critérios a publicação de pesquisas e, nesse quesito, a produção latino-americana ainda é pequena.

Apesar de o financiamento ser um obstáculo, as instituições brasileiras estão entre as mais aquinhoadas da América Latina. Assim, o maior desafio é fazer bom uso dos recursos disponíveis, aumentar a eficiência interna e a agilizar a administração, além de potencializar a habilidade de atrair os melhores talentos, tanto docentes quanto discentes.

Finalmente, as universidades que estão em lugares privilegiados nos rankings não sofrem ataques, tomadas, vandalismos, cadeiraços e paralisações selvagens, como as universidades públicas brasileiras. Tais paralisações minam o que uma universidade pode ter de mais precioso: sua credibilidade.

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2. Nos EUA é muito comum universidades recrutarem professores/pesquisadores estrangeiros; assim como é comum professores/pesquisadores migrarem de uma universidade para outra ao longo da carreira, seguindo as melhores oportunidades. Veja o exemplo dos ganhadores do Nobel de Química deste ano: todos nasceram fora dos EUA mas fizeram suas pesquisas em universidades americanas, e passaram por mais de uma instituição ao longo da carreira. Por que isso não acontece no Brasil? Se a USP quisesse atrair um pesquisador de ponta da Europa para fazer pesquisa aqui, como poderia fazer isso? Seria viável? Que tipo de incentivos a universidade poderia oferecer a ele? Ele teria de prestar concurso e entrar com o salário base de qualquer outro docente?

O excesso de burocracia representa um entrave para a  contratação e a gestão de recursos humanos nas universidades públicas, incluindo aí a atração de docentes e pesquisadores estrangeiros.

Nesse sentido, dada a relevância de se contar com especialistas que representem uma pluralidade de formações, experiências profissionais, acadêmicas e estilos de trabalho para o aperfeiçoamento docente e discente, foi instituído, nesta gestão, o Programa de Bolsas para Professores Visitantes Internacionais. Esse programa visa promover o desenvolvimento do intercâmbio internacional no âmbito acadêmico, científico e cultural para o fortalecimento do ensino e da pesquisa, bem como para incrementar e consolidar as iniciativas de internacionalização em curso na Universidade.

Outro programa importante instituído foi o de Professores Visitantes estrangeiros e Professores Colaboradores do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI-USP), visando a garantir a presença contínua desses professores em seu corpo docente. O programa consiste na concessão, a cada dois anos, de dez bolsas para professores visitantes estrangeiros e professores colaboradores admitidos no IRI-USP, que terão duração mínima de 1 (um) mês e máxima de 24 (vinte e quatro) meses.  Tal programa foi estendido para outras faculdades e institutos da USP que desejam (sic).

Além disso, nos últimos três anos e meio, tem havido investimentos importantes nas ações voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão dos serviços à comunidade, que representam os objetivos permanentes da universidade. Recentemente, a exemplo das mais importantes universidades mundiais, a USP criou programa inédito, chamado USP Internacional, que objetiva fortalecer a presença da universidade no exterior.

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Esse fortalecimento se dá por meio de quatro vertentes principais. A primeira delas diz respeito à promoção, implementação e consolidação de parcerias com instituições de ensino superior e setores empresariais e organizações governamentais e não-governamentais. A segunda está voltada ao apoio, incremento, agilização e expansão de iniciativas em curso ou em implantação na universidade. A terceira compreende a implantação e o gerenciamento de quatro Núcleos Internacionais da USP, em São Paulo, Boston, Londres e Singapura. A quarta refere-se ao estabelecimento de um novo Programa de Internacionalização da USP para os próximos anos.

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Também foi criado o programa de Bolsas de Intercâmbio Internacional para alunos de graduação, no qual mais de 2 mil alunos já tiveram ou estão tendo a oportunidade de desenvolver atividades acadêmicas em instituições estrangeiras. Trata-se de um projeto pioneiro entre as instituições brasileiras de ensino superior e abrange, também, áreas não contempladas no programa Ciência sem Fronteiras.

3. E se o senhor quisesse atrair um pesquisador de destaque da UFMG, por exemplo, seria viável fazer uma "oferta de emprego" a ele para migrar para a USP?

A contratação de docentes deve seguir os trâmites burocráticos regulares, que são complexos. A universidade, entretanto, tem privilegiado ações que contemplem a interdisciplinaridade de pesquisas e, consequentemente, de pesquisadores de outras instituições de ensino brasileiras.

Exemplo disso é o sucesso obtido pelos Cepids, que inspirou a criação de outros programas de pesquisa semelhantes, como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), criados em 2008 pelo CNPq, e Programa de Incentivo à Pesquisa da USP, criado em 2010, e que representa o terceiro maior programa de pesquisa interdisciplinar do país. Os INCTs, os Cepids e o Programa de Incentivo à Pesquisa são três programas que diferem grandemente em sua abrangência, duração e volume de recursos empregados, mas têm várias características em comum. São 'programas' de pesquisa - não simples 'projetos' que se esgotam em si - que visam a reorganizar o trabalho de um grupo de pesquisadores e dar mais força e coerência, fazendo com que a cooperação de competências diferentes se associem para levar à produção de resultados que possam ser mais relevantes, ter mais impacto na ciência e na sociedade.

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Lançado em 2010, o Programa de Incentivo à Pesquisa representa iniciativa inédita dentro do panorama das universidades brasileiras, no qual foram aplicados cerca de R$ 219 milhões de recursos oriundos da própria USP. As duas primeiras chamadas (2010-2011 e 2011-2012) envolveram um total de recursos da ordem de R$ 146 milhões. Uma característica essencial exigida para a submissão das propostas era a participação de pesquisadores de pelo menos duas unidades diferentes da universidade, procurando promover sua natureza interdisciplinar, garantindo aos selecionados a transformação do grupo de pesquisa em um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP).

O primeiro programa de apoio à pesquisa que nós organizamos, em 2010-2011, e que deu origem aos 43 NAPs da primeira fase, teve um forte impacto nos Cepids: vários grupos de pesquisa se organizaram e foram contemplados com o financiamento da USP para os NAPS, e essa experiência serviu de base para o projeto que apresentaram, em seguida, para a Fapesp. Assim, o Programa de Incentivo à Pesquisa e os NAPs contribuíram em parte para o sucesso da USP no programa dos Cepids.

4. Sobre a possibilidade de a USP estar "superdimensionada" para ser uma universidade de ponta: O senhor concorda com essa colocação? O que quer dizer com isso exatamente? A USP está grande demais para o seu próprio bem? Qual seria o tamanho ideal?

Nos rankings internacionais, ao se analisar as universidades mais bem classificadas, a USP tem sido uma exceção no que tange à sua idade, abrangência, tamanho e número de alunos. É plausível a preocupação de estarmos superdimensionados para ser uma universidade de ponta, em comparação com as universidades mais bem classificadas do mundo. Na avaliação de 2012 do Q. S. Universities, fomos tidos como extra large university, o que nesse contexto não é um elogio! Não advogo, de maneira nenhuma, que os números da USP sejam diminuídos, mas simplesmente que se deixe de criar novos cursos, sem que se redimensionem os cursos antigos etc.

Além disso, falamos um idioma que não é internacional e estamos localizados fora do "centro do mundo". Tais características, menos positivas, terão de ser compensadas por muito investimento e esforço de todos, para que a USP se mantenha visível entre as universidades do globo.

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5. Sobre o ensino de aulas em inglês na graduação e a realização de processos seletivos em língua estrangeira na pós-graduação: Isso já está sendo colocado em prática? Já há cursos sendo ministrados em inglês?

Sim, várias unidades de ensino e pesquisa já estão promovendo seus processos seletivos em inglês e espanhol e algumas disciplinas dos programas estão sendo ministradas nesse idioma.

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