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Cheguei num período de trabalho intenso, era o pico de desova da espécie que se reproduz na ilha, a Tartaruga Verde (Chelonia mydas). Aguentar madrugadas a fio com mais de vinte fêmeas desovando não é fácil. E, no monitoramento diurno das praias, eram percorridos pelo menos 4 km. Uma mísera folguinha na sexta à noite e, no sábado, mais 8 km. E nenhuma trilha é tranquila. A formação vulcânica fez montanhas enormes, com muitas pedras soltas. O cansaço era inevitável, e além dele tinha o confinamento. Passei por momentos difíceis, muita saudade.
O tempo foi passando, o trabalho diminuindo, as folgas aumentando. Assim consegui completar todas as trilhas. Cada praia era como um outro planeta. Umas tinham a areia preta, vermelha, branca, outras somente pedras e mais pedras. Uma beleza que eu nunca imaginaria poder conhecer tão intimamente. As aves pousavam em nossas cabeças, os caranguejos apertavam os dedos dos pés, os peixes eram tantos que era possível pegar com as mãos. Cachoeiras embelezavam o caminho e, no fim, para compensar o cansaço, encontrávamos a água do mar novamente.
Quando avistei o navio em que eu voltaria para casa, foi uma mistura de ansiedade, alegria e tristeza. Deixar aquele paraíso e as minhas lindas tartaruguinhas seria uma das coisas mais difíceis do mundo. Mas foram dias intensos, de muitas responsabilidades: conhecer pessoas, gravar reportagens. Embarquei no navio e, após mais quatro dias de viagem, a minha ficha caiu: eu estava de volta à realidade, a água negra da Baía de Guanabara me recebia. O que me fez mais grata pela exuberância da natureza, e me deu a certeza de ter energia para continuar lutando por sua preservação.