Pode ser um doce para quem está de dieta, uma taça de vinho para quem luta contra o alcoolismo ou uma mulher atraente para um homem casado. Como frear o impulso de sucumbir à tentação e permanecer fiel a seus objetivos de longo prazo?
Cientistas da Northwestern University mostram que parar para pensar no assunto pode por tudo a perder. Os autores resolveram estudar o tema para tentar conciliar dois pressupostos contraditórios encontrados na literatura: um diz que a presença da tentação deturpa a cognição e promove o comportamento impulsivo enquanto o outro, ao contrário, afirma que a tentação desperta processos de proteção que levam ao autocontrole.
Para os autores, as duas versões deixam um fator crucial de fora: é a interação entre tentação e estados viscerais - como fome, sede ou desejo sexual - que dita se o mesmo processo cognitivo vai levar a comportamentos impulsivos ou ao autocontrole.
Para testar essa hipótese, eles fizeram duas experiências. Na primeira, 49 voluntários, todos estudantes em relacionamentos sérios, foram divididos em dois grupos. Uns assistiram a filmes eróticos e outros a um sobre moda. Em seguida, os pesquisadores mostraram imagens de mulheres atraentes e observaram por quanto tempo os homens olharam pra elas.
Uma semana depois, repetiram a experiência, desta vez dizendo que as moças eram estudantes disponíveis. O grupo que assistiu ao filme erótico perdeu mais tempo olhando as fotos das moças. O mesmo não aconteceu com o outro grupo.
Em outro estudo, 53 fumantes foram divididos em dois grupos. Alguns foram instruídos a fumar antes da experiência, enquanto o resto ficou sem cigarros por três horas. Depois, todos relataram o prazer de fumar.
Na fase dois, nas mesmas condições, os voluntários tiveram uma escolha: esperar 40 minutos para fumar e ganhar 3 euros ou fumar imediatamente e não ganhar nada. Como esperado, os que haviam fumado conseguiram esperar - mas também avaliaram o prazer de fumar pior do que da primeira vez. Os demais não esperaram, mas avaliaram o prazer de fumar positivamente.
O que todo isso nos mostra? "Se pensamos em razão versus emoção, tendemos a pensar que a cognição serve a interesses a longo prazo e a emoção, à gratificação imediata - como se tivéssemos um anjo e um demônio de cada lado", dizem os autores.
Mas para os cientistas isso não é bem assim. Segundo eles, é verdade que necessidade ou desejo promovem impulsividade, mas também corrompem processos cognitivos que poderiam interromper tal comportamento. "Quando você está em tentação, sua racionalização pode sucumbir e você ter o demônio dos dois lados", concluem os autores.