Achado mais antigo sinal da presença de estrelas no Universo

A explosão GRB 090423 ocorreu menos de 1 bilhão de anos após o Big Bang e é o objeto mais antigo conhecido

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Por Carlos Orsi
Atualização:

Uma das primeiras estrelas a surgir no cosmo morreu apenas 700 milhões de anos após Big Bang. Notícias de seu fim, sob a forma de raios gama, raios X e luz infravermelha, chegaram à Terra em abril, depois de uma viagem de 13 bilhões de anos, ou 95% da idade do Universo. Detalhes da descoberta são descritos por duas equipes internacionais de astrônomos na edição desta semana da revista Nature.

 

 

"Com certeza é o mais antigo sinal da presença de uma estrela individual no Universo", diz um dos autores de um dos trabalhos, Nial Tanvir, da Universidade de Leicester, no Reino Unido. "Suspeitávamos de que estrelas assim existissem porque galáxias que observamos de quando o Universo tinha de 1 bilhão a 2 bilhões de anos não parecem objetos recém-nascidos".

 

A explosão de raios gama detectada pelo Telescópio Espacial Swift, da Nasa, recebeu o nome de GRB 090423 e sua fonte é, atualmente, o mais antigo objeto conhecido no Universo. Observações posteriores foram feitas em várias instalações pelo mundo.

 

Explosões de raios gama são os eventos mais energéticos de que se têm notícia, e os cientistas acreditam que podem estar associados à morte de estrelas muito maiores que o Sol, que explodem dando origem a buracos negros e estrelas de nêutrons. Astrônomos esperam que a descoberta de GRB 090423 ajude a estudar uma parte da chamada "Idade das Trevas" do Universo.

 

"A Idade das Trevas teve duas fases", explica Tanvir. "A primeira, realmente escura, foi entre o Big Bang e a formação das primeiras estrelas. Nessa época, entre 1 milhão e talvez 100 milhões após o Big Bang, simplesmente não havia objetos emitindo luz".

 

Mas, mesmo depois que as primeiras estrelas, como a que originou GRB 090423, acenderam-se, a parcela de sua radiação que poderia chegar até nós, sob a forma de luz visível, foi absorvida pelo gás flutuando no espaço. Esse período é a segunda fase da Idade das Trevas. "Depois de algumas centenas de milhões de anos, parece que as primeiras estrelas conseguiram, com sucesso ,ionizar o gás neutro entre as galáxias, e a luz foi capaz de passar". "Produzido por uma das primeiras estrelas a se formar, nosso GRB marca o início do fim da Idade das Trevas", diz o cientista.

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Conforme a luz emitida por um objeto distante viaja pelo espaço e o Universo se expande, os raios sofrem o que os astrônomos chamam de "desvio para o vermelho", com a luz chegando até nós com menos energia do que quando foi emitida. Luz visível, por exemplo, pode se apresentar como radiação infravermelha e raios gama, como raios X.

 

"Neste caso, o pico da emissão realmente veio na faixa dos raios X", afirma Tanvir, embora raios gama também tenham sido detectados. "Captamos  também ondas de rádio, embora elas não sejam discutidas no nosso artigo".

 

Recentemente, cientistas anunciaram descoberta do mais antigo aglomerado de galáxias, com idade de 10 bilhões de anos - apenas 3 bilhões mais jovem que o GRB 090423 . "No geral, essas idades são consistentes com as expectativas", diz Tanvir. "As primeiras estrelas provavelmente se formaram ainda antes que o nosso garoto, talvez 100 milhões de anos após o Big Bang, mas não temos evidência disso ainda".

 

Ele diz que um aglomerado de 10 bilhões de anos é interessante porque "parece ter se formado surpreendentemente rápido". "Acho que ainda é cedo para dizer se esse aglomerado em particular representa um problema para nossas teorias, mas creio que é justo dizer que as pessoas ainda não estão preocupadas".

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