Nigel Haywood: Simplesmente torna tudo um pouquinho mais difícil e o preço das mercadorias um pouco mais caro. A Argentina está tentando adicionar uma grau de incerteza à vida nas ilhas e até certo ponto está tendo sucesso nisso. No fim das contas o povo das Malvinas é corajoso e obstinado. As pessoas aceitam que isso é parte da vida aqui e tocam em frente. Creio que a Argentina prejudica mais a si mesma com estas medidas que são ilegais de acordo com as leis internacionais. Como resultado, qualquer chance que eles tinham de ter boas relações com as Malvinas se torna cada vez mais difícil. É uma atitude de mentes muito pouco abertas, ao que me parece.estadão.com.br: Com relação a outros países da América do Sul, em especial o Brasil, quais as perspectivas de maior cooperação comercial e ligações políticas? Há canais mais abertos à cooperação desde que o governo de Dilma Rousseff assumiu o poder no Brasil em 2011?Nigel Haywood: Gostaria de deixar bastante claro que as Malvinas estão de portas abertas para realizar negócios e cooperar com os países da região. Queremos trocas políticas com a América do Sul e o mundo. Ficamos muito encorajados, por exemplo, com a vinda de uma delegação uruguaia em janeiro e com a troca de experiências especialmente no campo de agricultura. Temos ligações comerciais que gostaríamos de aumentar especialmente com o Brasil e o Chile. Politicamente, as coisas são muito mais difíceis porque esses governos não recebem representantes das Malvinas, já que estão alinhados à posição da Argentina. Isso causa certo estranhamento pois é como se esses governos fingissem que nós não existíssemos, quando nós temos plena certeza de nossa existência.As Malvinas são um dos locais mais extremamente democráticos que se pode imaginar. Temos oito representantes eleitos diretamente e não há partidos políticos. São oito pessoas de mente bastante independente, que trabalham arduamente para atingir o consenso em assuntos que têm um impacto na ilha. Eles viajam bastante para a América do Norte, o Caribe e a União Europeia, onde conversam com políticos e conseguem transmitir a posição das Malvinas e como as ilhas são na realidade e não apenas do modo como a Argentina diz que elas são.É triste para mim que não haja essa mesma abertura nos governos da América Latina. Como governador das ilhas, se eu viajo a algum dos países da região não recebo nenhuma ligação oficial. Me parece tolo fingir que não estamos aqui. Se outros países querem, assim como nós, diminuir o nível de tensão, eles certamente deveriam tentar escutar ambos os lados em vez de simplesmente aceitar qualquer versão inventada pela Argentina. Se você está tentando avançar e adotar posições internacionais, qual o sentido de ir somente até a Argentina? Pelo menos converse com representantes das ilhas - venham até as ilhas.Daríamos as boas-vindas a representantes brasileiros que quisessem vir até as Malvinas ver com seus próprios olhos e com mentes abertas como é a situação real aqui, saudaríamos essa atitude e seria maravilhoso. No momento, parece que ainda estamos um pouco distantes disso. Espero que em algum momento o bom senso prevaleça e que as pessoas percebam que seguir apenas um lado, que adota cada vez mais frequentemente medidas ilegais, não é a melhor maneira de manter a paz em nossa região.estadão.com.br: Durante anos o Sr. foi diplomata britânico e serviu na Ásia, no Oriente Médio e na Europa. Como foi assumir o posto de Governador há pouco menos de dois anos e se mudar para uma região tão remota?Nigel Haywood: As Malvinas são fantásticas. Sou originário da Cornualha, uma região cercada pelo mar e com muito vento. É uma comunidade pequena assim como nas Malvinas. O que realmente é diferente aqui é que meu trabalho é muito mais político. Se você é embaixador, você mantém contatos com ministros e empresários. Aqui sou acessível a qualquer pessoa. Sou parte do time que governa a ilha, a posição do governador absoluto nas ilhas deixou de existir nos anos 1950 e 1960.Trabalho de maneira muito próxima aos representantes eleitos para avançar internacionalmente questões que eles consideram importantes. Algumas das medidas que estamos tomando em termos de proteção ambiental e pesca sustentável, por exemplo, são pioneiras no mundo. Podemos ser pequenos e pouco conhecidos da maior parte das pessoas, mas há muito acontecendo por aqui e creio que os outros também têm coisas a aprender conosco.