Cientistas anunciam ter encontrado sinais da chamada ‘partícula de Deus’

Dois grupos de pesquisadores do Cern, em Genebra, chegaram a resultados bastante parecidos que apontam para a existência da partícula, fundamental para explicar o universo

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Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

 GENEBRA - Cientistas da Organização Europeia para Pesquisas Nucleares (Cern) anunciaram na terça-feira, 13, em Genebra, que conseguiram encontrar os primeiros sinais da chamada “partícula de Deus”, que garante massa a todas as demais e é, portanto, central na explicação do universo. Ainda não há prova definitiva, mas o achado abre caminho para o que promete ser a maior descoberta científica dos últimos cem anos.

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Também chamado de bóson de Higgs, a “partícula de Deus” é a última fronteira não resolvida pela física. Ela explicaria como os átomos ganharam massa, dando origem à matéria. O problema é que a partícula hipotética jamais foi encontrada.

Na terça, os primeiros resultados dos testes apontaram que há chances de que seja encontrado esse “elo perdido” da física. Cautelosos, os cientistas dizem que têm de continuar as experiências em 2012. Se confirmarem a descoberta, estará aberto o caminho para detalhar o funcionamento dos átomos e do próprio universo.

“Estão fechando o cerco. E é a primeira vez na história que há um sinal claro, ainda que não conclusivo, do bóson de Higgs”, explicou Rogerio Rosenfeld, teórico da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que está no Cern avaliando os resultados.

Paralelas. Duas equipes foram criadas há dois anos com o objetivo de buscar a partícula divina. Usaram o acelerador de partículas mais poderoso do mundo, que custou US$ 8 bilhões, para tentar desvendar o mistério.

Os grupos realizaram milhões de choques de prótons, mas vários meses se passavam e nenhum sinal do bóson de Higgs era registrado. O projeto chegou a sair da lista de prioridades, e cientistas passaram a se concentrar em outros resultados dos choques. Mas, em meados de 2010, surgiram os primeiros sinais.

Os dois grupos – que operam os detectores Atlas e o CMS – decidiram não compartilhar seus dados e fixar um prazo para os testes. O objetivo era o de não serem influenciados pelo resultado da outra equipe e promover uma corrida. Funcionou.

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Na terça, cientistas dos dois grupos anunciaram seus resultados – e eles são bastante próximos. Segundo o Atlas, a partícula tem um peso equivalente a 125 bilhões de elétron volts, 500 mil vezes mais pesada que um elétron. Pesquisadores do CMS concluíram que a partícula teria uma massa de cerca de 126 bilhões de eletro volts.

Para o Atlas, a conclusão é de que há menos de 1 chance em 5 mil de não ser a prova final. Ainda assim, a taxa não permite que os cientistas chamem o achado de “descoberta”. Para isso, terão de provar que o erro é de apenas 1 a cada 3,5 milhões. Porém, para os cientistas, esses resultados não devem ser meras coincidências. Nos últimos 20 anos, outros sinais chegaram a ser registrados, mas nunca de uma forma tão clara como ontem – e por dois grupos simultâneos.

Fabiola Gianotti, líder do Atlas, estima que o resultado final será conhecido em meados de 2012. “Teremos de multiplicar nossos testes em três ou quatro vezes para chegar a um resultado mais concreto. Mas estamos num bom caminho”, disse, aplaudida por centenas de colegas enquanto apresentava os resultados. No Cern, cientistas diziam que o resultado final só rivalizará com a descoberta da estrutura do DNA, há 60 anos.

A avaliação do Cern é de que, em apenas seis meses, os experimentos do acelerador de partículas geraram resultados mais significativos que 20 anos de pesquisas. Para um grupo de cientistas, porém, a confirmação da partícula seria uma “decepção”: se for provado que ela não existe, um novo campo da física será aberto e tudo o que se sabe sobre o átomo terá de ser repensado.

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