Cientistas descobrem fóssil da mais antiga ave já registrada

Pássaro encontrado por pesquisadores chineses viveu no início do período Cretáceo, pelo menos 5 milhões de anos antes da ave mais antiga que se conhecia; animal foi descrito na 'Nature'

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Cientistas coletaram, na China, dois fósseis bem preservados da mais antiga ave já registrada. A descoberta, publicada nesta quarta-feira, 6, na revista Nature, revela que as aves modernas já existiam de 5 milhões a 6 milhões de anos antes do que se imaginava. Os fósseis do novo pássaro, batizado de Archaeornithura meemannae, são os mais primitivos espécime já encontrados de Ornituromorfos - o ramo evolutivo que eu origem a todas as espécies de aves que existem atualmente.

A ave tinha o tamanho de um pardal, possuía uma crista de penas na cabeça, tinha uma cauda em forma de leque e penas sobrepostas, com o formato adequado para permitir o voo quando as asas se abriam. As extremidades das asas possuíam álulas - isto é, um tufo de poucas penas curtas que formam um apêndice -, uma característica que permaneceu em algumas aves modernas como os falcões. 

Uma reconstrução do mais antigo ancestral das aves moderna, oArchaeornithura meemannae, que viveu há 130 milhões de anos, na China Foto: Zongda Zhang

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De acordo com os autores do estudo, espécimes fossilizados de aves da era Mesozoica - entre 252 milhões e 66 milhões de anos atrás - são extremamente raros e, por isso, pouco se sabe a respeito da história evolutiva dos ancestrais primitivos dos pássaros modernos. Acredita-se, no entanto, que os Ornituromorfos representavam cerca da metade da diversidade de aves naquela era geológica. Espécies de outros grupos, como os Enantiornithes - caracterizados por ter dentes e asas com garras -, também eram encontrados no período Mezosoico, mas eles não deixaram descendentes e foram extintos há cerca de 66 milhões de anos, no fim do período Cretáceo.

O grupo, liderado por Min Wang, do Laboratório de Evolução de Vertebrados e Origens Humanas da Academia Chinesa de Ciências, encontrou a nova espécie na bacia do Sichakou, em Hebei, no nordeste da China. De acordo com Wang, os dois fósseis apresentam uma preservação quase completa da plumagem e das características anatômicas que lhe davam uma forma aerodinâmica e eficiência no voo. A ausência de penas na parte superior das pernas, de acordo com os cientistas, indica um estilo de vida adaptado a águas rasas - o que coincide com outras espécies fósseis de aves encontradas em depósitos semelhantes na China. "A plumagem é realmente linda. É incrível que elas tenham permanecido preservadas por 130 milhões de anos", disse o cientista. "Os espécimes tinham uma plumagem avançada, incluindo uma álula bem desenvolvida e cauda em forma de leque. Essas duas características são aerodinamicamente importantes para as aves modernas durante o voo lento, melhorando a capacidade de realizar manobras", explicou.

Com base em datações estratigráficas e radiométricas feitas nas camadas geológicas onde foram encontrados os fósseis, os cientistas concluíram que a ave viveu do início do período Cretáceo - há 130 milhões de anos. Até agora, o espécime mais antigo de aves desse ramo pertenciam ao Cretáceo Inferior, há 125 milhões de anos.

O nome do gênero, Archaeornithura, deriva das palavras gregas "archae" e "ornithura" e significa "antigo Ornituromorfo". O nome da espécie é uma homenagem ao paleontologista chinês Meemann Chang, por sua contribuição ao estudo das aves primitivas.

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