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Conservação ambiental pode melhorar saúde pública, diz estudo

Regiões próximas às áreas de conservação de proteção integral na Amazônia têm menores índices de malária, diarreia e infecções 

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Por Redação
Atualização:

Conservar a biodiversidade pode ser uma maneira de melhorar a saúde pública, de acordo com um novo estudo. A pesquisa mostra que, na Amazônia, doenças como a malária, a diarreia e infecções respiratórias têm incidência consideravelmente menor nos arredores das áreas de conservação de proteção integral - categoria que inclui parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas.

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O novo estudo, publicado nesta segunda-feira, 15, na revista científica PNAS, foi realizado por cientistas da Universidade Duke (Estados Unidos). Eles analisaram um extenso conjunto de dados coletados em quatro anos de observação em 700 municípios da Amazônia brasileira, sobre clima, demografia, saúde pública e desmatamento.

Estudos anteriores já sugeriam que uma parcela de 25% da carga global de doenças pode ser atribuída à má qualidade ambiental. No entanto, segundo os autores do novo estudo, havia poucas provas científicas de que a conservação dos ecossistemas pudesse melhorar a saúde humana.

Dados coletados foram em quatro anos de observação em 700 municípios da Amazônia brasileira Foto: REUTERS / Nacho Doce

Segundo o autor principal do estudo, Subhrendu Pattanayak, professor de saúde global, meio ambiente e políticas públicas da Universidade Duke, a Amazônia é o local ideal para esse tipo de estudo, porque a região tem sido submetida a uma rápida mudança do uso do solo - quando florestas são derrubadas por pressão demográfica, ou de exploração comercial.

"Nossa descoberta sugere que áreas estritamente protegidas podem servir como uma barreira para a transmissão de doenças. Embora essas relações sejam complexas, acreditamos que protegendo e preservando a biodiversidade, podemos também conseguir benefícios para a saúde pública", afirmou Pattanayak.

Os resultados do estudo variam de acordo com cada doença, com o tipo de área protegida e com a proximidade de construção de estradas e áreas de mineração. Nos arredores das áreas de proteção integral - onde o uso humano é altamente restrito - foi verificada a menor incidência de malária, diarreia e infecções respiratórias. "Descobrimos que só quando as áreas de conservação eram de proteção integral houve diminuição da incidência das três doenças - provavelmente porque, além de diminuir o desmatamento, elas efetivamente desestimulam a interação entre a floresta e pessoas suscetíveis à doença", diz o estudo. De acordo com os autores, a expansão das áreas de proteção integral poderia ter um efeito positivo na saúde pública da região. 

A incidência de malária, no entanto, foi mais alta em áreas protegidas de uso sustentável, nas quais é permitida a presença humana e a exploração de recursos florestais. De acordo com o estudo, restringir a atividade mineradora e a construção de estradas poderia diminuir a incidência de malária - mas não das outras doenças.

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Os cientistas encontraram uma forte associação entre a construção de estradas, o aumento da malária e a diminuição de diarreia e infecção pulmonar. "Isso provavelmente reflete seu impacto ambivalente no acesso à saúde (que se manifesta na redução de diarreia e infecção pulmonar) e distúrbios dos ecossistemas naturais (que se manifestam no aumento da malária", diz o estudo.

"Vários desses fatores já apareceram antes em modelos independentes de doenças, mas é a primeira vez que elas são unidas em um só modelo. Certamente, a cadeia causal da saúde ambiental não é curta, nem simples. Mas eu e meus colegas acreditamos que nossos métodos e esse estudo ajudam a agregar ligações importantes nessa cadeia. Sendo assim, ele fortalece as recentes reivindicações da Comissão Lancet de Saúde Planetária, que pedem a proteção da natureza para conseguir resultados em saúde", disse Pattanayak.

Além do grupo da Escola Nicholas de Meio Ambiente, da Universidade Duke, a equipe incluiu pesquisadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, da Rede Sul-Asiática de Desenvolvimento e Economia do Meio Ambiente, do Nepal, da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

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