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Correa diz que para de extrair óleo se for pago

Presidente do Equador defende que nações ricas financiem preservação em países pobres

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Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

 O presidente do Equador, Rafael Correa, fez uma eloquente defesa do pagamento dos chamados serviços ambientais nesta quinta-feira, 21. Correa propôs não extrair os 846 milhões de barris de petróleo sob o Parque Nacional de Yasuní, e manter de pé suas florestas, em troca de pagamento. Segundo Correa, economista de formação, a não extração desse petróleo evitaria a emissão de 407 bilhões de toneladas de CO2. Sua exploração, no entanto, renderia ao país US$ 14 bilhões, aos preços de hoje. Correa observou que esse dinheiro seria importante para o país, considerando que parte de sua população não tem renda suficiente para atender suas necessidades básicas. “Não estamos pedindo esmola”, enfatizou Correa, argumentando que a maior renúncia em não extrair o petróleo seria a do próprio Equador. O presidente disse também que as áreas protegidas representam um quinto do território equatoriano, e que o país deveria ser remunerado, por intermédio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), para “manter a floresta de pé”. Correa ponderou que o Protocolo de Kyoto foi um avanço, mas disse que seu esquema remunera o reflorestamento de áreas desmatadas, tornando “melhor negócio cortar as árvores, vender a madeira, reflorestar e ser indenizado”. Ele reconheceu também que o mecanismo Redd (Reduzindo Emissões do Desmatamento e Degradação) indeniza pela manutenção da floresta de pé, mas ressaltou que “não é suficiente”. Exibindo gráficos, Correa procurou mostrar que os países desenvolvidos são os que mais consomem os recursos naturais, enquanto os mais pobres os oferecem, às vezes gratuitamente, como no caso do oxigênio gerado pela Floresta Amazônica. Segundo os dados, o grupo de 20% dos mais ricos é responsável por 60% das emissões de CO2, enquanto os 20% mais pobres emitem apenas 0,72% do gás carbônico – uma relação de 83 para 1. Além de consumir os serviços ambientais gerados pelos países mais pobres, como a conversão de gás carbono em oxigênio pelas florestas tropicais, os mais ricos ainda degradam o meio ambiente dos mais pobres, ao utilizar seus recursos naturais, afirmou Correa: “Eles consomem 83 pães e prejudicam o padeiro”, comparou. “Essa é uma das maiores injustiças planetárias.” Correa terminou seu discurso de pouco mais de 20 minutos (o padrão de todos) com a seguinte reflexão: “Imaginem se fosse o contrário. Se as florestas pertencessem aos países ricos, e os pobres as estivessem destruindo. Já nos teriam invadido, sob o pretexto de salvar o mundo.” O estilo pragmático do discurso de Correa destoou do de Evo Morales, presidente da Bolívia, que pertence à mesma corrente ideológica, e o precedeu na tribuna da Rio+20. Morales atacou o conceito de economia verde, um dos eixos da conferência, ao lado da governança, como uma nova forma de “colonialismo para submeter os governos antiimperialistas e anticapitalistas”. Morales se insurgiu contra “a ditadura do mercado” dos países ricos, cuja “orgia depredadora obriga os países do Sul a serem seus guardas florestais”. Ele citou Fidel Castro como “grande sábio e presidente e comandante da Cuba revolucionária”, que recomendou na Rio-92: “Paguem a dívida ecológica, não a dívida externa.” E tripudiou: “A essa altura sentimos que a dívida dos países capitalistas é impagável, enquanto que a situação dos países pobres e em desenvolvimento é melhor que a deles”. Segundo Morales, graças à nacionalização, a receita anual da estatal boliviana do petróleo, YPFB, saltou de US$ 300 milhões, em 2005, para US$ 3,5 bilhões, este ano. As reservas em moeda forte da Bolívia aumentaram, nesse período, de US$ 1,7 bilhão para US$ 13 bilhões. E os investimentos públicos, de US$ 600 milhões – 70% dos quais de doações externas – para US$ 5 bilhões. Ele também defendeu a nacionalização dos serviços públicos, como água e telecomunicações, e receitou aos países africanos: “Recuperem, nacionalizem seus recursos naturais.” Mais adiante foi a vez do presidente cubano, Raúl Castro, cujo discurso contrastou fortemente com a atuação de seu irmão, Fidel, tanto pela concisão – apenas 9 minutos – quanto pela falta de carisma. Sem mencionar os Estados Unidos e as potências europeias, Raúl disse que a invasão do Iraque, em 2003, assim como os conflitos atuais no Norte da África e no Oriente Médio, são “consequências do neoliberalismo, guerras de novo tipo, pela conquista de fontes energéticas e o controle de recursos naturais, como água".

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