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Em Marte, água pode ter sido mais abundante do que se imaginava

Meteoritos que vieram do Planeta Vermelho indicavam ambiente seco, mas experimento científico simula impacto violento que os enviou à Terra e conclui que, antes do choque, sua composição era rica em hidrogênio, sugerindo um passado com muita água

Por Fabio de Castro
Atualização:

A água pode ter sido muito mais comum em Marte do que os cientistas pensavam até agora, de acordo com um novo estudo publicado hoje na revista Nature Communications por um grupo internacional de pesquisadores. 

A principal evidência de que Marte sempre teve um ambiente extremamente seco é a composição de determinados meteoritos provenientes do planeta vermelho e encontrados na Terra. O novo estudo revelou, porém, que o mineral do qual são compostos os meteoritos podem ter sido ricos em hidrogênio, o que indicaria a presença a abundante de água no passado marciano.

Imagem de Marte composta por mais de mil fotos da sonda Vinking Orbiter; novo estudo indica que presença de água no planeta pode ter sido muito mais abundante do que se imaginava. Foto: NASA Jet Propulsion Laboratory, U.S. Geological Survey

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A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade de Nevada em Las Vegas (Estados Unidos) e realizada na Fonde de Luz Avançada do Laboratório Nacional de Berkeley (Berkeley Lab), nos Estados Unidos.

Os pesquisadores crairam uma versão sintética de um mineral conhecido como whitlockita, que contém hidrogênio. Depois de diversos experimento de choque e compressão com as amostras de whitlockita, para simular as condições em que os meteoritos foram ejetados de Marte, os cientistas puderam estudar sua estrutura microscópica utilizando raios-X.

Os experimentos com raios-X revelaram que a whitlockita pode ficar completamente desidratada após os impactos, formando merrilita, um mineral muito presente nos meteoritos marcianos, mas que não ocorre naturalmente na Terra.

"Isso é importante para podermos deduzir quanta água pode já ter existido em Marte, e se essa água é originalmente marciana, ou sse veio de cometas e meteoritos", disse um dos autores do estudo, Martin Kunz, di Berkeley Lab.

"Se mesmo uma parte dessa merrilita tiver sido whitlockita antes, isso muda dramaticamente a quantidade de água em Marte", disse outro dos autores, Oliver Tschauner, do Departamento de Geociências da Universidade de Nevada.

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Como a whitlockita pode se dissolver em água e contém fósforo, um elemento essencial para a vida na Terra - e a merrilita parece ser frequente em muitos meteoritos marcianos -, o estudo também tem implicações para a avaliação da possibilidade de vida em Marte.

"A grande questão aqui é se a água em Marte teve suas origens em Marte: já houve alguma vez um ambiente que pudesse permitir a geração da vida em Marte?", declarou Tschauner.

Acredita-se que vários dos meteoritos marcianos encontrados na Terra tiveram origem nacratera de Mojave, em Marte; na foto, uma imagem da cratera produzida pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa. Foto: NASA JPL-Caltech, University of Arizona

As pressões e as temperaturas geradas nos experimentos de choque, comparáveis às que ocorreram no momento dos impactos dos meteoritos, foram mantidas por apenas 100 bilionésimos de segundo - de um décimo a um centésimo do tempo de impacto original dos meteoritos.

Segundo Tschauner, o fato de que os experimentos mostraram uma conversão parcial da whitlockita em merrilita nas condições de laboratório significa que, nas condições reais, com um impacto de durração mais longa, produziria uma "conversão quase completa" em merrilita.

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Canhões e raios-X. Para realizar o experimento, os pesquisadores atiraram em amostras sintéticas de whitlockita com placas de metal disparadas de um canhão de gás pressurizado, com velocidade de 800 metros por segundo - ou cerca de 2.700 quilômetros por hora - , sob pressões 363 mil vezes maior que a do ar dentro de uma bola de futebol.

"É preciso um impacto muito severo para acelerar o material o suficiente para que ele escape da força gravitacional de Marte", explicou Tschauner.

Nos laboratórios de Berkeley, os cientistas usaram um feixe de raios-X para estudar a estrutura microscópica das amostras de whitlockita após o choque, usando uma técnica conhecida como difração por raios-X. A técnica permitiu que os cientistas distinguissem entre merrilita e whitlockita nas amostras que sofreram o impacto.

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De acordo com o artigo, mais de 36% das amostras de whitlockita foram convertidas em merrilita do lado do mineral em que havia ocorrido o impacto das placas metálicas. Segundo os cientistas, mais do que a compressão, o aquecimento gerado pelo choque foi responsável por transformar a whitlockita em merrilita.

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