Estudo revela assentamento da Idade da Pedra no fundo no mar

Objetos encontrados a três quilômetros da atual costa da Suécia foram deixados por pescadores há 9 mil anos, quando local era uma lagoa próxima do oceano

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Antigas armadilhas para peixes foram encontradas há sete anos no fundo do Mar Báltico, no sudoeste da Suécia Foto: Universidade de Lund

Há sete anos, mergulhadores encontraram antigas armadilhas para peixes no fundo do Mar Báltico, no sudoeste da Suécia. Desde então, pesquisadores da Universidade de Lund (Suécia) estudaram o local e descobriram que se trata de um assentamento humano da Idade da Pedra.

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Agora, em um novo estudo publicado na revista científica Quaternary International, os pesquisadores comprovaram que o local era, há 9 mil anos, uma lagoa onde homens do Mesolítico passavam partes do ano e pescavam intensamente.

Uma das descobertas mais importantes feitas no local é um machado de quase 9 mil anos, esculpido em chifre de alce, surpreendentemente bem fabricado e bem preservado. Além disso, foram localizadas ao todo oito armadilhas fixas para peixes - as mais antigas conhecidas - feitas de hastes de aveleira trançadas.

Uma das descobertas mais importantes feitas no local do assentamento humano da Idade da Pedra é este machado de quase 9 mil anos Foto: Universidade de Lund

Segundo os cientistas, o local fica a cerca de três quilômetros da atual costa da Suécia, 20 metros abaixo da superfície atual da baía Hanö. Mas, há 9 mil anos, o perfil do litoral era bem diferente, já que o nível do mar era bem mais baixo. Se hoje está no fundo do mar, no Mesolítico o sítio onde foi descoberta a "área de pescaria" primitiva ficava na borda de uma lagoa próxima ao mar.

De acordo com o autor principal do novo estudo, Anton Hansson, que é pós-doutorando em Geologia na Universidade de Lund, é provável que diversos outros sítios arqueológicos da pré-História estejam submersos, como o da baía de Hanö.

"Se quisermos entender totalmente como os humanos se dispersaram depois de sua origem na África - e qual era seu modo de vida -, temos que procurar todos seus assentamentos. Hoje, vários deles estão submersos, já que o nível do mar é mais alto atualmente que durante a última glaciação. Os humanos sempre preferiram se estabelecer em áreas costeiras, como fazemos até hoje", disse Hansson.

Hansson acredita que o ambiente lacustre onde se situava o assentamento era cercado por uma floresta de pinheiros - e que os habitantes levavam ali "uma vida bastante satisfatória". "Havia muita comida e um clima razoavelmente quente, pelo menos nos verões. Como geólogos, queremos recriar essa área para entender como ela se parecia", afirmou.

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Os cientistas perfuraram o solo marinho até três metros de profundidade e submeteram as amostras obtidas a datações de radiocarbono. Eles também estudaram o pólen e as diatomáceas - organismos unicelulares que fazem parte do fitoplâncton - coletados no local.

Linha tracejada mostra a linha costeira atual, os pontos coloridos indicam locais onde foram descobertos ossos e armadilhas para peixes Foto: Universidade de Lund

Os pesquisadores produziram um mapa batimétrico - que mostra a profundidade de cada trecho da área -, utilizando para isso dados obtidos com ecossondas e a partir de amostras coletadas por mergulhadores.

De acordo com Hansson, antes da descoberta não se conhecia nenhum vestígio de pesca em rios e lagos na Suécia do Mesolítico. As estruturas costeiras também são as mais antigas já encontradas no norte da Europa, embora provavelmente não sejam as únicas.

"Sítios como esses já eram conhecidos, mas apenas por meio de descobertas esparsas. Agora nós temos as tecnologias necessárias para fazer interpretações mais detalhadas da paisagem", afirmou Hansson.

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