Estudo sugere ligação entre uso frequente de maconha e maior atividade sexual

Cientistas da Universidade de Stanford avaliaram dados de 50 mil americanos e mostraram que frequência do sexo entre usuários foi 20% maior; resultados, porém, não estabelecem relação de causa e efeito

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Um novo estudo feito por cientistas da Universidade Stanford (Estados Unidos) sugere que o uso frequente de maconha está associado ao aumento da atividade sexual. A pesquisa se baseou na análise de dados sobre mais de 50 mil americanos entre 25 e 45 anos de idade. Segundo o estudo, os usuários de maconha fizeram sexo com uma frequência 20% maior que os não usuários.

Os autores da pesquisa afirmam que a conclusão do estudo foi surpreendente, pois havia na comunidade médica uma suspeita de que o uso frequente da droga pudesse ter efeitos nocivos sobre o desejo ou a performance sexual. Porém, segundo eles, os resultados "são inequívocos" e apontam no sentido contrário.

Cientistas da Universidade de Stanford avaliaram dados de 50 mil americanos e mostraram que frequência do sexo entre usuários foi 20% maior; resultados, porém, não estabelecem relação de causa e efeito. Foto: M. Mitch / Universidade de Stanford

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"O uso frequente de maconha não parece causar danos à motivação ou à performance sexual. Na realidade, está associado a um aumento na frequência do coito", disse o urologista Micheal Eisenberg, pesquisador sênior da Escola de Medicina da Universidade de Stanford e coordenador do estudo.

O estudo não estabelece uma conexão de causa e efeito entre o uso de maconha e a atividade sexual, de acordo com Eisenberg, mas dá pistas de uma clara correlação. A pesquisa teve seus resultados publicados nesta sexta-feira, 27, na revista científica Journal of Sexual Medicine.

"A tendência geral que detectamos se aplica a pessoas de ambos os sexos, de todas as etnias, faixas etárias, níveis educacionais, faixas de renda e religiões. Aplica-se também a pessoas em todo tipo de estado de saúde, sejam casadas ou solteiras, tendo filhos ou não", afirmou Eisenberg.

Para determinar o efeito da maconha na frequência do sexo, a equipe de Eisenberg analisou os dados do Levantamento Nacional de Crescimento Familiar, patrocinado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

O levantamento, que fornece dados relacionados a estruturas familiares, práticas sexuais e fertilidade, reflete as características demográficas gerais da população americana e é realizado anualmente. Os participantes respondem quantas vezes tiveram intercurso sexual nas últimas quatro semanas e com que frequência fumaram maconha nos últimos 12 meses.

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Os cientistas compilaram as respostas a essas questões todos os anos desde 2002, quando a o levantamento começou a coletar dados de homens e mulheres. Eles incluíram na pesquisa dados relativos a pessoas de 25 a 45 anos de idade, excluindo os cerca de 3% de participantes que deixaram de responder alguma questão.

Frequência 20% maior. No total, os pesquisadores conseguiram dados sobre 28.176 mulheres com idade média de 29,9 anos e sobre 22.943 homens com idade média de 29,5 anos. A associação positiva entre a frequência do uso de maconha e a frequência do intercurso sexual foi registrada em 24,5% dos homens e 14,5% das mulheres.

Segundo o estudo, os usuários de maconha fizeram sexo com uma frequência 20% maior que os não usuários. As mulheres que disseram não terem fumado maconha no último ano, por exemplo, disseram ter feito sexo em média 6 vezes, nas quatro semanas anteriores. As que fumaram maconha todos os dias fizeram sexo 7,1 vezes, em média.

Entre os homens, os não-usuários responderam ter feito sexo, em média, 5,6 vezes no mês anterior, enquanto os que fumaram maconha fizeram sexo 6,9 vezes, em média. Eisenberg alerta, porém, que o estudo não deve ser mal interpretado, como se tivesse provado uma relação causal. "Ele (o estudo) não diz que se você fumar mais maconha vai fazer mais sexo", afirmou.

O novo estudo foi coordenado pelo urologista Micheal Eisenberg, pesquisador sênior da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos: "O uso frequente de maconha não parece causar danos à motivação ou à performance sexual. Na realidade, está associado a um aumento na frequência do coito." Foto: Universidade de Stanford

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De acordo com o cientista, entretanto, a tendência ao aumento da frequência sexual entre usuários de maconha permaneceu mesmo quando foi levado em conta o uso de outras drogas, como álcool e cocaína, por meio de uma correção estatística.

"Com isso, mostramos que de a correlação entre maconha e sexo não é apenas reflexo de uma tendência geral de pessoas mais desinibidas, que poderiam ser ao mesmo tempo mais inclinadas ao uso de drogas, e terem maior probabilidade de fazer sexo", disse Eisenberg.

O estudo mostrou ainda que a frequência do intercurso sexual subia, de forma constante, na mesma proporção em que aumentava a frequência do uso da maconha. Segundo Eisenberg, essa relação com a dose reforça os indícios de um possível papel ativo da maconha no favorecimento da atividade sexual.

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Ambíguo. A pesquisa é a primeira a examinar a relação entre uso de maconha e frequência do intercurso sexual com abrangência nacional nos Estados Unidos. "O uso de maconha é muito comum, mas seu uso em larga escala e a associação com a frequência sexual ainda não havia sido objeto de muito estudo científico", disse Eisenberg.

De acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, mais de 20 milhões de adultos americanos são usuários de maconha. Com a legalização da droga para uso médico e recreativo em 29 estados, esse número está subindo.

Apesar da crescente popularidade como droga recreativa, até agora a relação entre maconha e procriação permanece ambígua, segundo os cientistas. Por um lado, há relatos de disfunção erétil entre usuários pesados da droga, e estudos rigorosos encontraram uma redução na contagem de espermatozoides entre homens que fumam maconha. Por outro lado, experimentos conduzidos com animais e humanos indicam que a droga estimula a atividade em regiões do cérebro envolvidas com a excitação e a atividade sexual.

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