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Fósseis brasileiros mudam perspectiva sobre origem dos dinossauros

Esqueletos de 230 milhões de anos encontrados no Rio Grande do Sul sugerem que os grandes répteis pré-históricos chegaram a viver lado a lado com seus precursores e provavelmente tiveram ascensão mais gradual do que se pensava

Por Fabio de Castro
Atualização:

Um grupo de cientistas brasileiros descobriu, no Rio Grande do Sul, três fósseis que poderão mudar as teorias atuais sobre a origem e evolução dos dinossauros. Os pesquisadores descobriram pela primeira vez, lado a lado, dois esqueletos de dinossauros e um esqueleto de lagerpetídeo - um animal considerado um precursor dos dinossauros. 

De acordo com os autores do estudo, publicado hoje na revista científica Current Biology, a descoberta de que dinossauros e lagerpetídeos chegaram a conviver indica que os grandes lagartos pré-históricos podem ter evoluído de forma mais gradual do que se imaginava.

A ilustração mostra um grupo de três dinossauros da espécie Buriolestes schultzi (acima), sendo que um deles, adulto, está com um pequeno rincossauro na boca, enquanto um filhote abocanha um lagarto; um par delagerpetídeos da espécie Ixalerpeton polesinensis aparece na parte de baixo, sendo que um deles captura uma lagarta. Foto: Maurílio Oliveira

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"Nós sabemos agora com certeza que os dinossauros e seus precursores viveram lado a lado e que a ascensão dos dinossauros foi mais gradual do que imaginávamos - e não uma rápida substituição de outros animais que viveram na época", disse um dos autores do estudo, Max Langer, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP).

O novo lagerpetídeo, Ixalerpeton polesinensis, e os dois dinossauros da espécie Buriolestes schultzi, foram encontrados na Formação de Santa Maria, uma formação geológica localizada na região de Agudo, no centro do território gaúcho. A formação, com rochas de 230 milhões de anos, é considerada uma das mais antigas do mundo com a presença de fósseis de dinossauros.

A ilustração mostra um grupo de setelagerpetídeos do gênero Ixalerpeton (abaixo, à esquerda), um aetossauro (abaixo à direita), um esfenodonte na árvore (acima, à esquerda) e, perto dele, no chão, um rincossauro. Um dinossauro Buriolestes aparece em primeiro plano (acima, à direita), comoutros seis atrás dele e um pequeno rauisuchia à sua direita. Um pequeno anfíbio (amarelo) aparece no centro da imagem. Foto: Maurílio Oliveira

Os pequenos dinossauros pesavam cerca de sete quilos, tinham cerca de 1,5 metro de comprimento, 50 centímetros de altura e um crânio de apenas 13 centímetros. De acordo com Langer, trata-se do único representante estritamente carnívoro do grupo dos sauropodomorfos, que inclui dinossauros gigantes do Jurássico, como o Diplodocus e o Apatosaurus. O lagerpetídeo, um bípede, é ainda menor, com cerca de 25 centímetros de altura.

Detalhes. Segundo Langer, a descoberta mostra que o Ixalerpeton e os Buriolestes foram contemporâneos durante os primeiros estágios da evolução dos dinossauros. Segundo ele, o novo espécime de lagerpetídeo tinha preservados elementos do crânio, da escápula - um osso do quadril - e de membros anteriores, além de algumas vértebras.

"Evidências de dentes também mostram que os primeiros dinossauros provavelmente se alimentavam de todo tipo de pequenos animais, mas provavelmente não comiam plantas", disse Langer.

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Parte do crânio de um dinossauro da espécieBuriolestes schultzi, encontrado na Formação de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em rochas de 230 milhões de anos; pela primeira vez fósseis de dinossauros foram encontrados lado a lado com esqueletos de lagerpetídeos, animais bípedes que são considerados os precursores dos grandes lagartos pré-históricos. Foto: Cabreira et al.

Segundo ele, os detalhes revelados pelo estudo dos dois novos exemplares de Buriolestes já ajudaram a preencher lacunas importantes na evolução de algumas das características anatômicas dos dinossauros. Mas Langer e seus colegas ainda continuarão as pesquisas, utilizando tomografia computadorizada para caracterizar e descrever a anatomia dos animais com ainda mais precisão. 

Além de Langer, participaram do estudo os paleontólogos Sergio Furtado Cabreira, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e Alexander Kellner, do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os fósseis foram encontrados pelos paleontólogos da Ulbra Sergio Furtado Cabreira e Lúcio Roberto da Silva.