Fósseis revelam história de pinguins gigantes extintos da Austrália

Estudo mostra que pinguins migraram em diferentes períodos geológicos da Antártica para o território australiano, última área a ter pinguins gigantes, extintos em outros locais há 23 milhões de anos

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Um novo estudo revela que diferentes espécies de pinguins da Antártica se dispersaram pela Austrália em diferentes momentos. Segundo os autores da pesquisa, há 23 milhões de anos, o pingins gigantes, que já estavam extintos em todo o planeta, ainda existiam em terras australianas.

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A distância atual entre a Austrália e a Antártica é de 4 mil quilômetros, mas as duas massas de terra só começaram a se separar há 100 milhões de anos. Segundo os autores do estudo, publicado nesta terça-feira, 26, na revista científica PLOS One, a dispersão dos pinguins pela Austrália continuou mesmo após a separação.

O estudo liderado por pesquisadores da Universidade Monash (Austrália) mostra que a espécie de pinguins gigantes Anthropodyptes gilli sobreviveu na Austrália por até sete milhões de anos após sua extinção em outras áreas.

A imagem mostra a comparação de tamanho doúmero (osso da parte superior do braço) de um pinguim pequeno, de um pinguim imperador e de um extinto pinguim gigante (da esquerda para a direita). Foto: Travis Park

De acordo com o líder da equipe de cientistas, Travis Park, o estudo ajuda a preencher lacunas no conhecimento sobre a evolução dos pinguins.

"Nos últimos 20 anos, vimos um renascimento da nossa compreensão sobre a evolução dos pinguins. No entanto, os fósseis de pinguins australianos, até agora, haviam sido deixados de fora desse quadro global e ninguém sabia onde eles se encaixavam na história. Nosso artigo é o primeiro a tentar colocar no lugar as peças desses quebra-cabeças", afirmou Park.

Os registros fósseis estudados por Park e sua equipe mostram que a Austrália abrigou um grande número de espécies de pinguins. Hoje, só uma espécie vive no país: o pequeno pinguim Eudyptula minor. De acordo com os cientistas, no entanto, havia uma lacuna nos registros dos pinguins australianos antes do período Quaternário da era Cenozoica, iniciado há 1,8 milhão de anos.

Para atualizar a história dos pinguins, os cientistas analisaram fósseis de pinguins coletados recentemente e os compararam às espécies conhecidas, incluindo o extinto pinguim gigante. Com isso, eles puderam montar uma nova árvore filogenética que mostra o parentesco entre todas as espécies.

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Longa história. De acordo com os autores do estudo, os primeiros pinguins do planeta surgiram há cerca de 66 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos. A reconfiguração dos continentes, segundo eles, teve impactos na evolução dos pinguins, por afetar os padrões de dispersão e isolamento dos animais. Os fósseis dos pinguins mais antigos foram localizados na Antártica e na Nova Zelândia - que eram muito mais próximas na época. 

Segundo Park, os pinguins fósseis têm relação distante com os pinguins que ainda vivem na Austrália e, de modo geral, todos os pinguins australianos estão espalhados em diversos pontos da árvore filogenética. 

De acordo com o cientista, isso significa que os pinguins da Austrália não são resultado da sobrevivência de uma única linhagem, mas sim da sobreposição de múltiplas linhagens que colonizaram o litoral australiano ao longo das eras geológicas.

A imagem mostra os tamanhos dopinguim pequeno, dopinguim imperador e do extinto pinguim gigante em comparação a um humano. Foto: Travis Park

Park afirma que os pinguins gigantes, extintos há 23 milhões de anos em todo o mundo, ainda persistiram na Austrália por um período de três a sete milhões de anos. "Caraterísticas biogeográficas únicas da Austrália permitiram que populações de pinguins gigantes persistissem em um refúgio até sua extinção final", disse.

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Pinguins primitivos que se dispersaram pelo hemisfério sul há cerca de 35 milhões de anos, segundo Park, foram extintos há cerca de 23 milhões de anos e foram substituídos por espécies menores a partir daí. 

Depois disso, novos grupos de pinguins se dispersaram novamente pelos continentes meridionais. Na Austrália, no entanto, pinguins gigantes arcaicos e outras espécies antigas persistiram até muito mais tarde, há menos de 20 milhões de anos. 

Park explica que, nos últimos 100 milhões de anos, a distância entre a Antártica e a Austrália aumentou de forma crescente, dificultando a migração de pinguins entre as duas massas de terra, criando dois conjuntos isolados de populações.

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Mas, em um momento entre 10 e 15 milhões de anos atrás, os padrões de circulação dos oceanos mudaram e abriram caminho para novas dispersões dos pinguins, que voltaram a colonizar a Austrália a partir da Antártica.Os pinguins australianos modernos, no entanto, só chegaram à Austrália no último milhão de anos, segundo os cientistas. 

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