O sobrevivente do Holocausto e ganhador do Nobel da Paz Elie Wiesel, em discurso no Parlamento italiano, atacou o papa Pio XII, que comandava a Igreja Católica durante a 2ª Guerra, criticando o "silêncio" do pontífice frente ao massacre dos judeus pelos nazistas.
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Wiesel, sobrevivente de Auschwitz e Buchenwald, fez um discurso emocionado durante o Dia Mundial de Memória do Holocausto, que também marca os 65 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz.
Praticamente ao mesmo tempo, o papa de nacionalidade alemã Bento XVI, que já defendeu as ações de seu antecessor, também falou sobre o Holocausto durante a audiência geral no Vaticano, do outro lado do Rio Tibre.
"Seja no nível mais rasteiro da polícia ou no nível mais exaltado da espiritualidade, o silêncio nunca ajuda as vítimas. Silêncio sempre ajuda o agressor", disse Wiesel a parlamentares e altas autoridades italianas, incluindo o primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Uma fonte do grupo de Wiesel disse depois a jornalistas que as palavras "nível mais exaltado da espiritualidade" referiam-se a Pio XII, que comandou a Igreja de 1939 a 1958.
A questão de o que Pio fez ou deixou de fazer para socorrer os judeus da Europa durante a guerra é uma questão candente entre católicos e judeus, e a referência no discurso de Wiesel mostra que ela está longe de resolver-se.
Há dez dias, o papa Bento XVI fez sua primeira visita à sinagoga de Roma, onde um líder judeu disse-lhe, diretamente, que Pio deveria ter se expressado com maior firmeza contra o Holocausto, para manifestar solidariedade aos judeus que estavam sendo levados "aos fornos de Auschwitz".
O Vaticano insiste que Pio não se manteve omisso, mas optou por atuar nos bastidores, temendo que uma intervenção pública piorasse a situação dos judeus e católicos nos territórios controlados pela Alemanha.
Na audiência geral, Bento, que foi convocado para a Juventude Hitlerista e para o Exército alemão enquanto era adolescente, durante a 2ª Guerra Mundial, referiu-se ao Holocausto como uma "loucura homicida" que jamais deve ser esquecida.
Em seu discurso, Wiesel também renovou sua exigência de que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que já negou o Holocausto e pediu a destruição de Israel, seja preso da próxima vez que deixar o Irã.
"Ele deve ser arrastado para a Corte Internacional de Justiça para responder por incitação de crimes contra a humanidade", disse.