Gel anticoncepcional mostra eficácia em macacos machos

Produto é injetado no canal que leva espermatozoides à uretra, bloqueando-o; no futuro, método pode ser alternativa à vasectomia em humanos

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Macacos no Centro Nacional de Pesquisas em Primatas da Califórnia Foto: Centro Nacional de Pesquisas em Primatas da Califórnia

Cientistas americanos testaram em 16 macacos, com sucesso, um gel anticoncepcional que poderá levar, no futuro, ao desenvolvimento de uma alternativa reversível para a vasectomia. 

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A substância, batizada de Vasalgel, é injetada no canal deferente- o duto que leva os espermatozoides do testículo à uretra - e preenche sua cavidade, formando uma barreira física. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira, 6, na revista científica Basic and Clinical Andrology.

Testada em coelhos no começo do ano passado, a técnica se mostrou eficiente e reversível - os animais conseguiram reproduzir depois da remoção do gel. O próximo passo, de acordo com os autores, é testar a reversibilidade em macacos. 

O estudo foi liderado por Catherine VandeVoort, do Centro Nacional de Pesquisa em Primatas da Califórnia, nos Estados Unidos. "Nossa pesquisa mostra que a aplicação do Vasalgel no canal deferente é um método de contracepção confiável em macacos rhesus machos adultos", disse Catherine.

Segundo a pesquisadora, a eficácia do método foi demonstrada depois que os macacos foram colocados, em temporada de reprodução, junto a fêmeas adultas reprodutivamente viáveis. "Um aspecto importante consiste em termos mostrado que o método de aplicação do Vasalgel é seguro e produziu menos complicações do que a vasectomia", afirmou Catherine.

A cientista afirma que a experiência anterior, em coelhos, mostrou que o método é realmente promissor como alternativa à vasectomia. "A pesquisa em coelhos mostrou que o produto pode ser reversível. Embora seja possível reverter uma vasectomia, o procedimento é tecnicamente desafiador e os pacientes têm taxas muito baixas de reversão da fertilidade", explicou.

Os cientistas selecionaram 16 macacos rhesus machos adultos para a cirurgia de injeção do Vasalgel no canal deferente. Os macacos foram monitorados por uma semana, durante a recuperação da cirurgia, antes de serem introduzidos de volta aos seus grupos, formados por 10 a 30 macacos, incluindo machos e fêmeas, filhotes e adultos. 

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Em cada grupo foram integrados de um a três macacos que receberam o Vasalgel. Os machos foram colocados em grupo durante pelo menos uma temporada completa de reprodução, que dura cerca de seis meses. Em todo o período, nenhuma gravidez foi registrada. A taxa de gestações prevista em circunstâncias semelhantes é de 80%, segundo os autores do estudo.

Um macaco, entre os 16 que receberam o Vasalgel, apresentou sintomas de granuloma espermático - uma reação inflamatória no canal deferente, em resposta ao extravasamento de espermatozoides. Segundo eles, o granuloma espermático é uma complicação comum que ocorre em cerca de 60% dos casos de vasectomia em humanos. O desconforto e os efeitos colaterais sérios, porém, são raros após o problema. 

Segundo os cientistas, as pesquisas agora terão foco na reversibilidade da aplicação do Vasalgel em macacos rhesus, para confirmar se o método pode mesmo ser uma potencial alternativa à vasectomia em humanos.

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