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Grupo de cientistas pede mais investigações sobre as origens do coronavírus

Em carta publicada na revista Science, pesquisadores dizem que ainda não há evidências suficientes para cravar se a pandemia de covid-19 teve como origem causas naturais ou um vazamento acidental de laboratório

Por James Gorman e Carl Zimmer
Atualização:

Um grupo de 18 cientistas afirmou em uma carta publicada na revista Science que não há evidências suficientes para cravar se a pandemia de covid-19 teve como origem causas naturais ou um vazamento acidental de laboratório. O documento foi divulgado na última quinta-feira, 13.

Eles pedem, assim como o governo dos Estados Unidos e outros países, uma nova investigação para explorar a origem do vírus.

Funcionáriodesinfeta veículo da equipe da OMS durante uma visita ao mercado de Wuhan; aequipe de investigação da organização passou 27 dias na cidade onde surgiram os primeiros casos de covid-19 Foto: AP Photo/Ng Han Guan

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Os organizadores da carta, Jesse Bloom, que estuda a evolução dos vírus no Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seattle, e David Relman, microbiologista da Universidade de Stanford, disseram que se esforçaram para articular um ponto de vista de "esperar para ver", o que eles acreditam ser compartilhado por muitos cientistas. Muitos dos signatários não falaram antes.

“A maior parte da discussão que você ouve sobre as origens do SARS-CoV-2 neste momento vem, eu acho, do número relativamente pequeno de pessoas que se sentem muito certas sobre suas opiniões”, disse Bloom. "Qualquer pessoa que esteja fazendo declarações com um alto nível de certeza sobre isso está apenas ultrapassando o que é possível fazer com as evidências disponíveis", acrescentou.

A carta diz que "as teorias de liberação acidental de um laboratório e de transbordamento zoonótico permanecem viáveis.”

Os defensores da ideia de que o vírus pode ter vazado de um laboratório, especialmente do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, onde os vírus da SARS foram estudados, estão em alerta neste ano desde que uma equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um relatório alegando que tal vazamento era extremamente improvável, embora a missão nunca tenha investigado nenhum laboratório chinês.

A equipe visitou o laboratório de Wuhan, mas não o investigou. O relatório, produzido em uma missão com cientistas chineses, atraiu extensas críticas do governo dos Estados Unidos e outros de que o governo chinês não cooperou totalmente e limitou o acesso dos cientistas internacionais às informações.

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A nova carta defendia uma investigação nova e mais rigorosa das origens do vírus, que envolveria uma gama mais ampla de especialistas e proteção contra conflitos de interesse.

O apelo para uma investigação mais aprofundada fez ecoar declarações pedindo mais investigações por parte do governo Biden e de outras nações, bem como do diretor da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ao contrário de outras declarações recentes, a nova carta não foi favorável a um cenário ou outro. Cartas recentes de outro grupo de cientistas e especialistas em assuntos internacionais argumentaram longamente sobre a probabilidade relativa de um vazamento de laboratório. Declarações anteriores de outros cientistas e do relatório da OMS afirmaram que uma origem natural era de longe a mais plausível.

Michael Worobey, um biólogo evolucionista da Universidade do Arizona, disse que assinou a nova carta porque "o recente relatório da OMS sobre as origens do vírus e sua discussão estimulou vários de nós a entrar em contato uns com os outros e falar sobre nossa desejo compartilhado de investigação imparcial das origens do vírus.”

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“Eu certamente respeito a opinião de outras pessoas que podem discordar do que dissemos na carta, mas senti que não tinha escolha a não ser expor minhas preocupações”, disse ele.

Outra signatária, Sarah Cobey, epidemiologista e bióloga evolucionista da Universidade de Chicago, disse: “Acho que é mais provável que o SARS-CoV-2 tenha surgido de um reservatório animal do que de um laboratório."

Mas “acidentes de laboratório acontecem e podem ter consequências desastrosas”, acrescentou ela. “Estou preocupada com as consequências de curto e longo prazo de não se avaliar a possibilidade de fuga do laboratório de forma rigorosa. Seria um precedente problemático."

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A lista de signatários inclui pesquisadores com profundo conhecimento da família de vírus SARS, como Ralph Baric, da Universidade da Carolina do Norte, que colaborou com o virologista chinês Shi Zhengli em pesquisas feitas na universidade sobre o vírus SARS original. Baric não respondeu às tentativas do jornal The New York Times de contatá-lo por e-mail e telefone.

Embora esse grupo de cientistas não destaque nenhum pesquisador pelo nome, a carta critica aqueles que também têm defendido a teoria da origem natural, citando a falta de evidências.

Kristian Andersen, virologista do Scripps Research Institute em La Jolla, Califórnia, tem sido um forte defensor da probabilidade "esmagadora" de uma origem natural. Ele foi um dos autores de um artigo frequentemente citado em março de 2020, que descartou a probabilidade de uma origem laboratorial baseada em grande parte no genoma do vírus SARS-CoV-2 que causa o COVID-19. “Não acreditamos que algum tipo de cenário baseado em laboratório é plausível ”, afirmou o documento.

Falando por si mesmo, Relman disse em uma entrevista que “o artigo que Kristian Anderson e quatro outras pessoas escreveram em março passado, na minha opinião, simplesmente não fornece evidências para apoiar suas conclusões”.

Andersen, que revisou a carta na Science, disse que ambas as explicações eram teoricamente possíveis. Mas, “a carta sugere uma falsa equivalência entre a fuga do laboratório e os cenários de origem natural”, disse ele. “Até hoje, nenhuma evidência confiável foi apresentada para apoiar a hipótese de vazamento de laboratório, que permanece baseada na especulação.”

Em vez disso, disse ele, os dados disponíveis "são consistentes com o surgimento natural de um novo vírus de um reservatório zoonótico, como foi observado tantas vezes no passado." Ele disse que apoia uma investigação mais aprofundada sobre a origem do vírus.

Angela Rasmussen, virologista da Organização de Vacina e Doença Infecciosa da Universidade de Saskatchewan, criticou a politização da teoria do vazamento de laboratório.

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Ela apoia uma investigação mais aprofundada, mas disse que "há mais evidências (precedentes genômicos e históricos) de que isso foi o resultado da emergência zoonótica em vez de um acidente de laboratório."

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