Internet conecta eleitor à cidadania do voto

São Paulo - Interatividade, espaço de debate e busca sobre o passado dos candidatos tornam a web grande aliada do eleitor. Para melhorar, ela precisa chegar mais longe, dizem especialistas

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Por Isabella Fagnani Sánchez de Souza
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A estudante e auxiliar-administrativa Lenise Torres votou "nulo" ou "branco" nas últimas três eleições, desde que tirou o título. No pleito deste ano, decidiu não se abster. "A internet me fez mudar de ideia", diz. A jovem de 22 anos conta que a sua decisão partiu de um boato que correu as redes sociais: "Vi aquela história de que quem votava nulo ou em branco na verdade estava ajudando algum candidato a se eleger. Mandei um e-mail para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tive uma rápida resposta de que tudo isso era mito." Após se informar, ela decidiu fazer uma pesquisa completa na web antes de decidir o voto. "Procurei as propostas dos candidatos, pesquisei o passado político em notícias na internet, usei Twitter e blogs." O surgimento de aplicativos e sites especializados no assunto é uma prova de que a web tem sido vista como uma poderosa aliada ao exercício do voto. Responsável por um desses sites, o Repolítica, Miguel Lannes acredita no potencial que a internet tem como amiga do eleitor. "Ela torna o processo de busca por candidatos uma experiência menos árida e mais interativa e acreditamos que pode haver um aumento do engajamento das pessoas, nos debates sobre política." Nos blogs e nas redes sociais, a discussão se acentua no período eleitoral. De acordo com o cientista social Luis Mauro Sá Martino, doutor pela PUC-SP, a web proporcionou vários espaços de debate. "Podemos observar uma proliferação ininterrupta de informações em todos os espaços da internet", diz. "O que não é possível, ainda, é medir o real impacto disso no comportamento eleitoral. A decisão do voto envolve muitos fatores e a internet certamente vem se tornando um deles." Para Liráucio Giradi Jr., doutor em sociologia pela USP, os sites e aplicativos de voto têm se mostrado importantes na tarefa de informar o eleitor. "São meios para gerar transparência e fundamentais para o processo democrático", defende. Ele alerta, porém, que a política não se faz com aplicativos. "Eles são instrumentos de acompanhamento do processo político, de participação do debate público, de fiscalização e de controle." O eleitor Tito Lívio Barcellos acredita que a rede por si só não garante o voto consciente. "A internet inovou em mostrar de maneira transparente a vida dos candidatos e seus destaques positivos e negativos nos meios de comunicação. Mas ainda é muito limitada. O debate in loco ainda é mais informativo." Em um país no qual 57% da população não tem acesso à web, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as ferramentas offline têm peso preponderante, enquanto os recursos virtuais devem se aproximar mais do eleitor. "Pesquisas demonstram que usuários de internet tendem a se envolver com o debate político. Mas, no Brasil, há uma imensa quantidade de pessoas - estatisticamente as que decidem as eleições - que não tem acesso sequer a computador", comenta Lannes, confirmando a necessidade de trazer as urnas e a rede ao maior número de brasileiros.

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