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Israelenses criam detector de mentiras que avalia escrita

Resultado inicial indica que, ao escrever sentenças falsas, as pessoas aplicam mais pressão ao papel

Por Carlos Orsi
Atualização:

Pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel, estão testando um aparelho detector de mentiras que avalia a veracidade de textos escritos à mão pela pessoa submetida ao teste. O dispositivo é composto por uma base computadorizada e uma caneta eletrônica sem fio, dotada de um sensor de pressão na ponta. Londres evita fraudes de R$ 1 mi com detector de mentiras Cientistas criam detector de mentiras para e-mail Cérebro pode substituir detector de mentiras "Toda a escrita é feita sobre uma folha de papel comum, fixada na superfície da base", explica um dos criadores do aparelho, Gil Luria, da faculdade de Bem-Estar Social e Ciências da Saúde de Haifa. "A caneta tem tinta, e produz a mesma aparência e sensação que o uso de uma caneta comum". Os testes preliminares do detector de mentiras escritas - realizados com 34 voluntários - serão descritos na edição de novembro da revista especializada Applied Cognitive Psychology. "Este foi um primeiro estudo piloto da ferramenta, e estamos planejando uma série nova para obter mais validação", afirma Luria. Os resultados da avaliação inicial indicam que, ao escrever sentenças falsas, as pessoas aplicam mais pressão ao papel e fazem letras mais altas e largas, diz o pesquisador. Aparelhos de detecção de mentiras costumam ser vistos com reservas por cientistas. O mais comum desses dispositivos, o polígrafo, avalia fatores como pressão arterial, batimentos cardíacos, suor e às vezes também postura, numa tentativa de relacionar os estados fisiológicos com os efeitos emocionais esperados de se contar uma mentira. Uma pesquisa realizada com psicólogos nos EUA em 1997 determinou que a maioria desses profissionais considerava o método inválido ou pouco confiável. Relatório de 2004 da Sociedade Britânica de Psicologia, por sua vez, concluía que, no uso do polígrafo, "decisões incorretas sobre quem está ou não mentindo ocorrem em taxas que estão longe de serem desprezíveis". O relatório britânico lembra ainda que é possível adotar "contramedidas" - como técnicas de relaxamento e meditação - para "vencer" o polígrafo. "Detectores de mentira não detectam a mentira em si, mas medidas fisiológicas ou comportamentos que se sabe que ocorrem durante a mentira", reconhece Luria. "Assim como polígrafo, a ferramenta de escrita manual não detecta diretamente o 'mentir'". Ele explica que o que aparelho de escrita manual busca medir, de fato, é a "carga cognitiva" - o esforço imposto à memória de curto prazo - da pessoa avaliada. O cientista diz que a pesquisa continua, a fim de avaliar a precisão da ferramenta de escrita manual como detector de mentiras e até que ponto os resultados podem ser influenciados por outras variáveis, como o estresse da pessoa examinada. "Um desses estudos futuros será o de comparar os resultados desta ferramenta aos do polígrafo, para entender as semelhanças e diferenças entre ambos". Luria diz que o aparelho também já foi capaz de descobrir diferenças de carga cognitiva entre desenhos feitos de memória ou copiados. "Mas, se poderemos usar o desenho para detectar mentiras, é uma questão que ainda teremos de estudar".

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