Motor do novo foguete da Nasa falha e teste é cancelado

O Ares I é o foguete projetado para levar astronautas de volta à Lua e em missões pelo Sistema Solar

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Por Carlos Orsi
Atualização:

A Nasa acabou cancelando, a poucos segundos do momento previsto para a ignição, o primeiro teste do primeiro estágio de seu novo modelo do foguete tripulado, o Ares. O estágio, de 50 metros de comprimento e quatro metros de diâmetro, deveria gerar uma temperatura igual a dois terços da do Sol, ou cerca de 3000º C, no instante da ignição. Mais de 650 canais de dados estavam prontos para coletar as informações do teste, que era aguardado, no local, por uma pequena multidão de entusiastas e acompanhado, em todo o mundo, via internet.

 

 

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A causa do cancelamento não foi anunciada de imediato, mas pouco antes da interrupção da contagem regressiva, a Nasa informava, pelo Twitter, que engenheiros analisavam "um problema no controle do bocal" do foguete. Também pelo Twitter, o astrônomo Phil Plait informou que "uma unidade de energia não funcionou".

 

Mais tarde, técnicos indicaram a ocorrência de uma falha na fonte de energia que alimenta o controle hidráulico do bocal do foguete. Não houve sinal de falhas no foguete em si. O estágio continha meia tonelada de combustível. Uma nova data para o teste não foi marcada.

 

O teste, em Promontory, Utah, iria pôr à prova o motor principal do foguete Ares I, projetado para ser o próximo veículo da Nasa a levar astronautas ao espaço, após a aposentadoria dos ônibus espaciais. O Ares deverá ter potência suficiente para levar astronautas não só à órbita da Terra, como as naves atuais, mas também a outros destinos, como a Lua. O teste de um foguete completo, o Ares I-X, incluindo uma falsa cápsula de tripulação e um sistema de fuga, está previsto para 31 de outubro.

 

A falha do teste ocorre num momento de grandes incertezas para a Nasa. O programa que criou o foguete Ares I, o Constellation, já gastou US$ 7 bilhões num veículo que os astronautas, talvez, jamais venham a usar.

 

O programa de US$ 108 bilhões para levar astronautas de volta à Lua até 2020 foi iniciado há cinco anos pelo então presidente George W. Bush, mas um comitê especial convocado pelo atual presidente, Barack Obama, concluiu que o plano não tem como funcionar no orçamento e cronograma atuais, porque provavelmente precisará de mais US$ 30 bilhões até 2020.

O primeiro estágio do Ares I, com 50 metros, aguardando a ignição em no Estado de Utah. Imagem: Nasa

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O plano atual da Nasa - que segue na linha definida por Bush, até que Obama decida qual rumo tomar - prevê a aposentadoria dos ônibus espaciais a partir de setembro de 2010. Com a construção da Estação Espacial Internacional (ISS) completa, o mesmo plano contempla o abandono do posto orbital pelos EUA dentro de sete anos. Se o cronograma para a ISS se mantiver e os planos de retorno à Lua não se concretizarem, na próxima década os astronautas dos EUA não terão para onde ir.

 

O comitê de Obama analisou outras opções, como lançar uma missão audaciosa diretamente para Marte ou enviar os astronautas em visitas a asteroides próximos da Terra. No relatório final, que deverá ser entregue na segunda-feira, 31, os membros do grupo também farão recomendações sobre o destino dos ônibus espaciais e da ISS.

 

"Se você quer fazer algo, é preciso ter o dinheiro para isso", disse a ex-astronauta Sally Ride, que faz parte do comitê. "Este orçamento é muito, muito, muito difícil de cumprir e ainda manter um programa de exploração espacial".

 

As opções diante da Casa Branca são variações dos seguintes temas: fazer menos, pagar mais ou mudar radicalmente o programa espacial. Uma ideia apresentada é a de repassar tarefas da Nasa, como o trânsito de astronautas entre a Terra e a órbita, a empresas provadas.

 

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"O problema é o pé 40 no sapato 36", disse o pesquisador Howard McCurdy, autor de diversos livros a respeito do programa espacial. "É muito difícil fazer caber tudo. Muitas das pressuposições feitas em 2004 (quando Bush apresentou seu plano) não se materializaram".

 

Um ex-administrador-associado da Nasa, Scott Hubbard, disse que se os EUA convidassem outros países, como a  Rússia, ou talvez a China, para a próxima grande viagem espacial, os custos para os cofres americanos poderiam se manter baixos.  Hubbard, atualmente um professor em Stanford, disse uma mudança é necessária. "O que temos agora é claramente insustentável".

 

(com Associated Press - atualizada às 18h15)

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