Novo achado de fóssil sugere 'cemitério de dinossauros' no interior de São Paulo

Encontrado na região de Marília, interior do Estado, relíquia pré-histórica foi identificada como parte do fêmur de um titanossauro que viveu na região há 70 milhões de anos

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Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Um fóssil achado em obra de duplicação de uma rodovia na região de Marília, interior de São Paulo, foi identificado como parte do fêmur de um titanossauro que viveu na região há 70 milhões de anos. O osso, encravado em uma rocha de arenito, teve a retirada concluída na última segunda-feira, 26, após dois meses de trabalho. Para o paleontólogo Willian Nava, o novo achado confirma que a atual região centro-oeste paulista está sobre um cemitério de dinossauros.

O osso fossilizado estava há dez metros de profundidade e apareceu na lateral de um talude escavado pelas máquinas que trabalham na duplicação da rodovia Dona Leonor Mendes de Barros (SP-333), na divisa entre Marília e Júlio de Mesquita. A concessionária Entrevias interrompeu as obras no local e entraram em cena os paleontólogos de uma empresa de arqueologia e do Museu de Paleontologia de Marília. "Acreditamos tratar-se da pata de um titanossauro. Após o salvamento e retirada da matéria do entorno, teremos mais condições de estudá-lo detalhadamente", disse o geólogo Nilson Benuci, que conduziu a escavação.

Detalhe do fóssil, identificado como parte do fêmur de um titanossauro, encravado na rocha Foto: Willian Nava/Museu de Paleontologia de Marília/Divulgação.

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A retirada do osso exigiu dezenas de horas de trabalho com martelo e talhadeira. O fóssil bruto foi levado para o museu, do qual Nava é o principal dirigente. "A descoberta desse osso, embora isolado, confirma que de fato muitos desses animais viveram em nossa região, especialmente durante o período cretáceo, há 70 milhões de anos. O oeste paulista está sobre um cemitério de animais pré-históricos, especialmente os grandes dinossauros", disse.

Nava lembra que ele mesmo já encontrou fósseis de titanossauros na região. "Em 2012, escavamos uma ossada fóssil quase completa de titanossauro a um quilômetro e meio desse local. Tinha 60% do esqueleto e hoje está sendo estudado na Universidade de Brasília", disse. Nesse caso, foram achados cerca de 50 ossos, entre eles vértebras das costas e da cauda, além de um pedaço do crânio. Os estudos indicaram que o animal teria até 15 metros de comprimento e pesava mais de 10 toneladas

Fóssil de titanossauro retirado de talude em rodovia próxima a Marília, no interior de São Paulo Foto: Willian Nava/Museu de Paleontologia de Marília/Divulgação

Entre maio e junho deste ano, Nava escavou uma "ninhada" de ovos fossilizados de crocodilo do período jurássico, em Presidente Prudente. Havia também um ovo que seria de um terópode, um pequeno dinossauro carnívoro. Foi um achado inédito, mas o material ainda está sendo estudado. No mesmo local, o pesquisador já havia recolhido dezenas de ossinhos de asas e outros membros de aves que conviviam com os dinossauros, algumas providas de dentes.

Outros fósseis de titanossauro, o gigante herbívoro, caracterizado pelo longo pescoço, foram encontrados na mesma região pelo paleontólogo Fabiano Vidoi Iori, do Museu de Paleontologia de Uchoa. Em 2019, a equipe de Iori desenterrou a vértebra de um titanossauro no barranco de um córrego, nessa cidade. Em abril deste ano, o paleontólogo recolheu fragmentos de ossos de titanossauro e dentes de abelissauro durante a construção de um pedágio na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294).

Equipe conclui escavação para retirada de fóssil em Marília, no interior de São Paulo Foto: Willian Nava/Museu de Paleontologia de Marília/Divulgação

Conforme a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), que regula a malha viária concedida, os contratos de concessão obrigam a concessionária a preservar todo o material de valor histórico, artístico e arqueológico que possa ser encontrado nos 11,2 mil quilômetros de rodovias paulistas concedidas à iniciativa privada. A concessionária deve impedir qualquer interferência a ser feita no entorno e comunicar os achados aos órgãos ambientais e ao patrimônio cultural.

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