O parque paulista dos dinossauros

Fósseis na região oeste, centro-oeste e norte recontam pré-história de São Paulo

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Por José Maria Tomazela (Textos) e Felipe Alves Elias (Ilustrações)
4 min de leitura

SOROCABA -  Achados recentes de partes de esqueleto fossilizado revelam que, em um passado remoto, várias espécies de dinossauros habitavam o interior do Estado de São Paulo. De acordo com paleontólogos como William Nava, do Museu de Paleontologia de Marília, há 70 milhões de anos, o “parque dos dinossauros” paulista cobria toda a região oeste, o centro-oeste e parte da região norte do Estado. 

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Ali viviam principalmente os titanossauros, dinossauros herbívoros de cauda e pescoço longos, que podiam chegar a 25 metros de comprimento. Nava se dedica há algumas semanas a montar um quebra-cabeças: reconstruir o osso da perna dianteira de um titanossauro fraturado em vários pedaços. 

O fóssil do dinossauro foi retirado de um barranco à margem de uma rodovia na região de Presidente Prudente. É o segundo esqueleto parcial desse mesmo animal encontrado na região. O pesquisador lamenta que uma parte maior do esqueleto não tenha ficado incólume durante as obras de construção da rodovia. “Pelo estado de conservação, esse fóssil deveria estar mais completo, mas as outras partes devem ter sido destruídas pelas máquinas.”

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O osso fossilizado que aflorou ficou encravado no barranco durante anos, exposto à erosão pela chuva e ventos, até ser encontrado. Na mesma área, foram coletados dentes de terópodes (dinossauros carnívoros) e outros dentes isolados, pertencentes a crocodilianos, além de parte de um crânio de um crocodilo da família dos peirossaurídeos, com registros fósseis anteriores nessa região. Os fósseis foram parcialmente expostos por obras de construção de um trevo rodoviário.

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Achado maior

Depois de reconstituído, o osso do titanossauro será exposto no museu, ao lado da reconstituição do esqueleto do parente que o próprio Nava encontrou e resgatou, em 2009, aflorando às margens da Rodovia SP-333, a 26 quilômetros da cidade de Marília. “Aquela rodovia, aberta há décadas, teve as obras executadas ao longo de um dos planaltos de Marília. No ponto exato onde estavam os fósseis, havia uma colina e houve necessidade de aprofundar o terreno para deixar a pista mais plana. Assim, muitas camadas de arenito foram expostas e em uma delas estavam os fósseis do dinossauro. Com o tempo solapando e erodindo os arenitos, eles apareceram e eu os achei”, relata.

Os trabalhos de escavação, realizados em parceria com as universidades de Brasília, Federal do Rio de Janeiro e Federal do Rio Grande do Sul, revelaram parte de um esqueleto de um titanossauro que, em vida, teria de 13 a 15 metros de comprimento – é o mais completo esqueleto da espécie já achado no Brasil. “Achados de titanossauros pelo Brasil raramente apresentam ósseos articulados, apenas isolados, o que torna o primeiro achado muito relevante”, diz Nava.

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O pesquisador é formado em História e desde adolescente se envolveu com a paleontologia, desenvolvendo habilidade para localizar e reconhecer fósseis. Na região de Marília, ele encontrou também fósseis de uma espécie extinta de um pequeno crocodilo na época desconhecido pela comunidade científica, batizado de Mariliasuchus amarali, que ainda são estudados pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e por outras instituições. “O primeiro fóssil achado nesse local foi uma concha fossilizada de um molusco bivalve e, ao lado dela, avistei uma grande vértebra de dinossauro desprendida da rocha. Foi o que me chamou a atenção para aquele local.”

Durante o exame do barranco, Nava encontrou fragmentos de costelas, duas vértebras caudais e ossos da bacia, formando um conjunto que, depois, compôs parte da região sacral do dinossauro. “Fotografei tudo, contatei amigos, como o paleontólogo Rodrigo Santucci, da Universidade de Brasília (UnB), e entre 2011 e 2012 fizemos quatro etapas de escavações que resultaram na remoção de 50% do esqueleto desse titanossauro. Associado ao fóssil estavam também dentes de crocodilianos e dinossauros terópodes (carnívoros), o que indica que nosso dino foi devorado e seus dentes fossilizaram junto”, conta.

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Os fósseis foram encontrados em camadas de arenito do Cretáceo Superior da Formação Marília, formados entre 65 e 79 milhões de anos. Nava imagina que havia na região um rio primitivo, de tempos em tempos exposto a fases de extrema aridez. Em um desses momentos, o titanossauro ficou exposto em um banco de areia desse rio, onde os animais carniceiros se banquetearam, antes que sua carcaça fosse definitivamente coberta pelas camadas de arenito, que aprisionaram os ossos, transformando-os em fósseis.