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Papa pede a fiéis para recuperar valor do jejum da Quaresma

Segundo Bento XVI, ato deixou de ter qualidade espiritual e se transformou em uma medida terapêutica

Por Efe
Atualização:

O papa Bento XVI pediu nesta terça-feira, 3, aos fiéis para recuperar o valor e o sentido do jejum na Quaresma, afirmando que, na atual sociedade do bem-estar, o ato deixou de ter qualidade espiritual e se transformou em uma medida terapêutica para o cuidado do próprio corpo. Bento XVI fez a declaração na Mensagem do Papa para a Quaresma, que tem como lema "Jejuou 40 dias e 40 noites. Depois, (Jesus) teve fome", apresentada hoje no Vaticano pelo cardeal Paul Josef Cordes, presidente do Conselho Pontifício Cor Unum, o organismo da Santa Sé encarregado de distribuir a caridade do pontífice. Na mensagem, o papa lembra que a Liturgia propõe para a Quaresma três práticas de penitência: a oração, a esmola e o jejum, e que este último é uma grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que induz a ele. "Por isso, na história da Salvação encontramos em mais de uma ocasião o convite a jejuar", acrescentou Bento XVI, que ressaltou que "já que o pecado e suas consequências oprimem a todos, o jejum nos é oferecido como um meio para recuperar a amizade com o Senhor". Bento XVI discorreu sobre a história sagrada, ressaltou que o próprio Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites e que, no final, disse que "não só de pão vive o homem", o que significa, explicou, que o "verdadeiro jejum tem como finalidade comer o alimento verdadeiro, que é fazer a vontade do Pai". O papa ressaltou que, na época atual, o jejum perdeu um pouco seu valor espiritual "e adquiriu mais, em uma cultura marcada pela busca do bem-estar material, o valor de uma medida terapêutica para o cuidado do próprio corpo". O pontífice acrescentou que o jejum pode ajudar a "mortificar nosso egoísmo", a evitar o pecado e a acrescentar a intimidade com Deus, "já que se privar do alimento material que nutre o corpo facilita uma disposição interior a escutar Cristo". A mensagem papal é o início das atividades do pontífice durante a Quaresma. Em 25 de fevereiro, ele irá à basílica de Santa Sabina, em Roma, para presidir os ritos da Quarta-Feira de Cinzas, que abrem o período. No domingo, 1º de março, se retirará durante uma semana de exercícios espirituais no Vaticano, que concluirão no sábado, 7 de março. Durante essas semanas, todas as atividades públicas do papa ficarão suspensas, entre elas a audiência geral das quartas-feiras. Cuidado com o corpo O cuidado com o corpo é algo "sensato e louvável", desde que não seja excessivo, "pois nesse caso diminui a liberdade do homem, que se torna escravo de seu corpo tirano", afirmou o cardeal Paul Josef Cordes, presidente do Conselho Pontifício Cor Unum. Cordes, titular do órgão da Santa Sé encarregado das obras de caridade do papa, fez esta declaração durante a apresentação da mensagem de Bento XVI para a próxima quaresma, na qual o Pontífice pediu aos fiéis que resgatem o valor e o sentido do jejum. Bento XVI ressaltou que nesta sociedade do bem-estar o jejum perdeu seu valor espiritual e se tornou, pelo contrário, uma medida terapêutica para o cuidado do próprio corpo. Levando em conta essa referência do papa, o cardeal Cordes disse que "cuidar bem do próprio corpo" e "tratá-lo com cuidado não é mal visto e a todos nos parece uma coisa sensata e até elogiável". Porém, ele disse que em nossos dias "esse desejo humano alcançou dimensões gigantescas". O cardeal afirmou que, em 2006, só na Itália oito milhões de pessoas frequentaram esses "templos do bem-estar", onde foram gastos 15 bilhões de euros. E na Alemanha, acrescentou, o número de usuários chegou a 13,5 milhões, 16,5% da população. Segundo Cordes, o cuidado ilimitado do corpo pode levar a seu enfraquecimento, ao passo que o desejo de bem-estar e prazer pode reduzir a liberdade do homem, que não conseguirá ficar à vontade com seu corpo, "já que este virará um tirano". "As religiões estão a favor do cuidado com o corpo, mas sem que se torne uma idolatria", disse o cardeal, que, voltando ao jejum, encorajou os cristãos a se mirarem no Ramadã muçulmano e no budismo. Para essas religiões, afirmou Cordes, o jejum representa uma "luta contra o poder da matéria sobre o homem". Para o cristão, no entanto, o jejum é "o recolhimento na profundeza da fé, onde se encontra Deus".

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