Pesquisadores fazem 1ª foto de raios múltiplos 'para cima' em SP

Imagem foi feita do Pico do Jaraguá, o ponto mais alto da cidade, a 1.135 metros de altitude, em meio a temporal do dia 20

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Por Felipe Resk
Atualização:
Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram registrar ocorrência de raios múltiplos para cima Foto: Marcelo Saba/CST-INPE

SÃO PAULO - A fotografia não está de cabeça para baixo. Em meio ao temporal que castigou a capital paulista na tarde do dia 20, uma quinta-feira, observadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São Paulo, conseguiram registrar pela primeira vez no País uma ocorrência de raios múltiplos para cima, os chamados ascendentes. A imagem foi feita do Pico do Jaraguá, na zona norte, o ponto mais alto da cidade, a 1.135 metros de altitude.

No topo do monte, estão localizadas duas antenas usadas por três emissoras de televisão. Segundo o pesquisador Marcelo Saba, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CTS), do Inpe, o fenômeno acontece porque estruturas altas terminam acumulando carga elétrica na ponta. Quando uma nuvem de tempestade passa por cima, a descarga elétrica termina ocorrendo em direção ao céu - em vez de ir para o solo, como é mais comum.“Já os raios convencionais, para o chão, se iniciam na nuvem”, explica.

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Foi flagrado um total de quatro raios para cima em um intervalo de cerca de 20 minutos. Dois deles aconteceram ao mesmo tempo: evento que nunca havia sido registrado desde o início do monitoramento do fenômeno, iniciado há quatro anos. "Foi surpreendente", diz Saba.

Para conseguir o registro, os pesquisadores se valem de câmeras capazes de produzir 20 mil imagens por segundo. Desde 2012, já foram registrados 110 raios ascendentes no Pico do Jaraguá e na Avenida Paulista, que também é alvo de monitoramento do instituto de pesquisa. Saba afirma que, ao contrário dos raios convencionais, esse tipo de descarga elétrica dificilmente representa risco às pessoas. “O raio ascendente sai de locais mais altos, onde normalmente não há pessoas.”

Segundo o pesquisador, quem sofre com o fenômeno são as estruturas que recebem a descarga elétrica. “Essa torre, por exemplo, recebeu quatro descargas em questão de minutos. Em um prédio, esse mesmo número de ocorrência acontece a cada três, quatro anos”, diz. “A estrutura fica submetida a um estresse, uma vez que a frequência é muito superior ao normal.” Além de torres de telecomunicações, os raios ascendentes também atingem estruturas de distribuição e de produção de energia, como turbinas eólicas.

De acordo com Saba, os raios ascendentes também são característicos de tempestades violentas. O temporal em que foram registrados durou cerca de duas horas e provocou alagamentos, queda de árvores e a morte de dois homens. Na zona oeste, região mais castigada, choveu quase 50% de todo o volume esperado para o mês, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE). Os ventos também chegaram a atingir 66,7 km/h.

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