Colônias de abelhas sem ferrão expostas a pesticidas neonicotinoides reduzem sua capacidade de polinizar culturas agrícolas, de acordo com um novo estudo publicado nesta quinta-feira, 19, na revista Nature.
Esse tipo de pesticida - o mais utilizado no mundo - foi banido na Europa desde 2013, depois de diversos estudos terem deixado cada vez mais claro que sua aplicação afeta o comportamento e a reprodução das abelhas.
Os estudos feitos até agora, no entanto, avaliavam apenas os efeitos dos pesticidas na mortalidade de abelhas, enquanto a nova pesquisa mostrou seus impactos nos importantes serviços de polinização que elas fornecem.
As abelhas são responsáveis por polinizar mais de 50% das plantas das florestas tropicais, 80% das do cerrado e 73% de todas as culturas agrícolas do mundo, de acordo com o projeto Polinizadores do Brasil, finalizado em outubro, com o envolvimento de cientistas de 18 instituições, sob coordenação do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Experimentos realizados pelo projeto mostraram que a presença das abelhas aumenta a polinização - e consequentemente a produtividade - de culturas como algodão, tomate, melão, castanha, canola, maça e caju. Certas culturas, como a do maracujá, maçã e melão, são polinizadas exclusivamente por abelhas e não existiriam sem esses insetos.
No estudo da Nature, uma equipe internacional liderada por Dara Anne Stanley, da Universidade Royal Holloway, de Londres (Reino Unido), os pesquisadores estudaram como a exposição a baixos níveis de um pesticida neonicotinoide (theamethoxam) afeta a capacidade das abelhas para polinizar flores de macieira.
Os cientistas expuseram 24 colônias de abelhas a diferentes níveis de thiamethoxam por 13 dias e depois permitiram que elas tivessem acesso a plantações de macieiras. Os autores observaram não apenas o comportamento geral das colônias, mas tambémo comportamento individual das abelhas.
Eles concluíram que as colônias expostas a neonicotinoides fazem menos visitas às flores de macieiras, coletando o pólen com menos frequência e produzindo maças com menos sementes, demonstrando uma taxa reduzida de serviços de polinização.
De acordo com Elina Niño, professora da Universidade da Califórnia, em Davis (Estados Unidos), o novo estudo traz uma importante contribuição sobre os estudos dos impactos dos neocotinoides. "É um estudo interessante, já que investiga não apenas como a exposição a pesticidas neonicotinoides afeta as abelhas, mas também como afeta seu 'produto final' - a fruta. É isso que as abelhas nos fornecem: polinização para garantir a segurança alimentar", afirmou Niño.
Complexidade. Segundo Gene Robinson, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (Estados Unidos), o estudo mostrou que, embora as colônias de abelhas tratadas com pesticida neonicotinoide tenham produzido maçãs com número reduzido de sementes, o mesmo não aconteceu com as abelhas que eram expostas individualmente ao pesticida.
"Este estudo destaca as complexidades da vida das sociedades de insetos e ilustra por que é importante pesquisar a ação de pesticidas tanto no âmbito dos indivíduos, como no âmbito das colônias. Essa é o único caminho para que possamos compreender verdadeiramente a influência dessas substâncias nas abelhas", afirmou Robinson.
Para Felix Wäckers, da Universidade Lancaster (Reino Unido) afirmou que, embora o novo estudo não seja surpreendente, levando em conta as evidências anteriormente reportadas de impactos dos neonicotinoides no comportamento dos polinizadores, o estudo é importante por demonstrar pela primeira vez que a exposição ao pesticida de fato compromete a polinização de culturas.
"Isso mostra que os fazendeiros têm um prejuízo econômico quando usam esse grupo de produtos para proteger suas plantações", afirmou Wäckers.