Rio Verde é a região mais cobiçada da Juréia

Controlada e preservada, a área é alvo de pressão para que seja aberta ao turismo

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Por Agencia Estado
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Coração da Estação Ecológica de Juréia, o Núcleo Rio Verde, que vai da foz do rio Una até o Maciço da Juréia, é a área mais bonita, preservada e cobiçada da reserva. Para preservar essa paisagem única, de biodiversidade riquíssima, ambientalistas digladiaram-se anos contra o setor imobiliário, que nos anos 70 preparava-se para lotear toda a região, localizada a apenas duas horas de São Paulo, e depois contra a Nuclebrás, que nos anos 80 pretendia construir uma usina nuclear. Travessia do rio Verde: acesso à área mais preservada da reserva. Foto: Beto Barata/AE Vencida a batalha e criada a Estação Ecológica, toda a região formada pelas praias do Una, Itacolomi e Rio Verde, foi isolada e preservada e é, atualmente, onde são desenvolvidas a maior parte das pesquisas sobre Mata Atlântica no Vale do Ribeira. Mas a paz que a paisagem invoca é apenas aparente. Além de expulsar a maior parte dos moradores tradicionais - hoje permanecem menos de 10 famílias, que precisam de autorização até para receber visitas de parentes -, a proibição de acesso barrou um caminho histórico e cultural da região, que liga Peruíbe a Iguape. Pela Trilha do Imperador, peregrinos faziam procissões anuais, por dentro da atual área de preservação. Hoje, as procissões dependem de autorização e da boa vontade da administração para acontecer. O fechamento da Trilha, principalmente no trecho que vai da Praia da Juréia em Iguape até a foz do rio Verde, através do Maciço da Juréia, é motivo de protestos das autoridades municipais e da população de Iguape. "Queremos que as pessoas continuem entrando e conhecendo a Juréia, pois acreditamos que moradores e visitantes têm o direito de ir até o rio Verde. É um costume secular, que pode ser feito de maneira ordenada", diz Liliam Rochael, da Associação de Monitores Ambientais de Iguape (Amai). No início de 2001, a Amai conseguiu autorização da Secretaria do Meio Ambiente para levar grupos de turistas até a cachoeira do Pocinho, a segunda cachoeira da Trilha do Imperador. "O acesso até este local era aberto até cerca de quatro anos atrás, quando fechamos por falta de pessoal para monitorar. O trabalho com os monitores é experimental e não está formalizado", afirma o diretor da Estação, Joaquim do Marco Neto. Praia do Rio Verde, vista da Trilha do Imperador. Foto: Beto Barata/AE Segundo Liliam, a Amai é uma forma de garantir renda para as pessoas, que moram no entorno da unidade de conservação e surgiu depois que um grupo de jovens participou de um curso de capacitação do Instituto Ing-ong de Planejamento Socioambiental, com recursos do fundo de Amparo ao Trabalhador. "Cobramos uma taxa porque desenvolvemos educação ambiental e controlamos a limpeza na Praia da Juréia. Nunca ultrapassamos o limite permitido, que é de cerca de 2 quilômetros, metade do caminho até o rio Verde, e limitamos o número de visitantes a 60 ou 90 por dia", disse. Esse acordo, no entanto, é contestado pela entidade ambientalista Eco Juréia, com o argumento de que o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) proíbe a visitação pública em estação ecológica. "O turismo vem se implantando no Morro da Juréia e o turismo clandestino avançando além do rio Verde", disse o presidente da organização não-governamental, Walter da Silva. De acordo com Joaquim do Marco, acaba de ser iniciado um levantamento técnico, como subsídio para o plano de manejo da unidade de conservação, que irá determinar a capacidade de suporte da trilha. "As críticas da Eco Juréia referem-se também ao acesso de parentes e convidados dos moradores do rio Verde, mas temos o controle. No entanto, a situação é preocupante, pois se não tiver estrutura, vai entrar cada vez mais gente. A única solução é fazer os estudos, avaliar a pressão e normatizar", disse. Trilha do Imperador. Foto: Beto Barata/AE Segundo o diretor, até para a romaria, que acontece em agosto, existe uma forte pressão das empresas de turismo, já que é a única oportunidade de entrar na área. "Neste ano limitamos a procissão a 120 pessoas e a Paróquia Bom Jesus de Iguape organizou. Mas a continuidade vai depender dos estudos e critérios claros, estabelecidos pelo Conselho Consultivo e regulamentados num plano de manejo." Na sua opinião, "a região do Rio Verde não deve ser aberta ao público, pois é uma área riquíssima do ponto de vista da biodiversidade, uma área única no Estado de São Paulo".

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