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USP contrata empresa para inspeção de navio Alpha Crucis

Depois de 2 tentativas frustradas, licitação para vistoria é concluída com sucesso, por R$ 2,6 mi. Navio deve voltar a navegar em março

Por Fabio de Castro
Atualização:

Depois de duas tentativas frustradas de licitação, o Instituto Oceanográfico (IO) da USP conseguiu contratar o serviço de inspeção obrigatória do navio de pesquisas Alpha Crucis - a maior e mais sofisticada embarcação para estudos oceanográficos da academia brasileira. Sem a inspeção, o Alpha Crucis está atracado há cerca de um ano no Porto de Santos, impedindo o início de novos estudos e ameaçando a conclusão de projetos já iniciados. 

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A nova licitação, concluída na manhã desta quinta-feira, 27, foi vencida pelo estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace) pelo valor de R$ 2,6 milhões, de acordo com o diretor do IO-USP, Frederico Brandini. Segundo ele, o navio deverá retomar suas operações a partir de março. Na segunda quinzena de janeiro, o navio deverá ser liberado para navegar até Fortaleza - uma viagem de cerca de uma semana. Na vistoria - obrigatória a cada cinco anos para embarcações desse porte -, o navio de 64 metros de comprimento e 970 toneladas precisa ser retirado da água e inspecionado a seco.

"Estamos muito contentes com o resultado da licitação. Sem o navio, vários projetos científicos importantes estão parados e há uma enorme demanda reprimida de pesquisadores. A partir de março, o IO organizará o cronograma e o Alpha Crucis realizará muitas expedições", disse Brandini. Nas primeira licitação, realizada no dia 10 de julho, não houve interessados. A segunda tentativa, no dia 30 de julho, fracassou porque a única empresa participante ofereceu preço acima do estipulado pelo edital - cerca de R$ 3,2 milhões. 

Segundo Brandini, na terceira tentativa de licitação, o lance inicial da empresa vencedora foi de R$ 3,1 milhões. "Os cerca de R$ 500 mil de diferença serão importantes para a operação do navio", disse. Segundo ele, o custo operacional do navio, quando está em ação, é de cerca de R$ 50 mil por dia. O valor inclui salários da tripulação, combustível, alimentação, pequenas manutenções e óleos lubrificantes. O navio consome cerca de 7 mil litros de óleo combustível por dia, o que corresponde a cerca de R$ 15 mil.

O Alpha Crucis foi adquirido em 2011, nos Estados Unidos, com recursos da Fapesp e da USP. O navio foi trazido ao Brasil e inaugurado em maio de 2012, em Santos, para substituir o navio oceanográfico Professor W. Besnard. O antigo foi utilizado entre 1967 e 2008, quando sofreu um incêndio e ficou sem condições operacionais de pesquisa, limitando drasticamente os estudos oceanográficos no Estado de São Paulo. 

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Pesquisas paradas. Com o Alpha Crucis parado, as pesquisas estão sendo feitas pelo barco oceanográfico Alpha Delphini, construído também no estaleiro Inace e inaugurado em 2013. Mas, segundo Brandini, o barco não tem a mesma capacidade de pesquisa que o Alpha Crucis. "Os equipamentos são muito mais limitados e não há espaço para certas manobras. Tivemos que desistir de vários projetos. Há uma série de equipamentos que foram colocados no mar pelo Alpha Crucis e estão esperando resgate. Isso é preocupante, porque esses aparelhos têm baterias com duração limitada e estão sob altas pressões e baixas temperaturas", afirmou.

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Segundo ele, um dos exemplos de projetos prejudicados é uma pesquisa coordenada pelo professor Paulo Sumida, do IO. O experimento consistiu em lançar ossos de baleia a uma profundidade entre 1500 e 2 mil metros, para estudar como eles são colonizados por comunidades de fungos e bactérias. Os ossos foram amarrados a estruturas metálicas, lançadas com boias e âncoras. "Sob essas estruturas metálicas temos um equipamento conhecido como liberador acústico, que se comunica com o navio. Ao toque de um botão, ele é acionado por ondas de rádio, os ganchos são abertos e a estrutura metálica sobe à superfície. Não temos como resgatar esse experimento sem o navio", explicou.

Outro exemplo é o projeto liderado por Edmo Campos, também do IO, em conjunto com um grupo internacional. Para estudar como a circulação de águas do Atlântico Sul influencia o clima global, os cientistas instalaram uma linha de boias que forma, entre a América do Sul e a África, uma espécie de varal com diversos equipamentos que medem correntes e temperaturas do mar ao longo do ano. 

Os aparelhos que estão nas boias fundeadas - isto é, presas ao fundo do mar - ao longo do oceano não fazem transmissão em tempo real. Por isso, o navio precisa ir até eles diversas vezes para recuperar dados utilizando um sonar, além de realizar manutenções. Os equipamentos possuem modems acústicos e os dados são coletados quando o navio passa por cima deles. A cada dois anos, em média, é preciso recolher os instrumentos para trocar as baterias e refazer o fundeio. "Projetos como esses são prioritários, porque a demora pode por tudo a perder. Mas também temos preocupação com os projetos aprovados, com prazos vigentes, que nem foram iniciados", disse Brandini.

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