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Vaticano impõe lei do silêncio a cardeais e data de conclave segue indefinida

Decisão é anunciada em meio a mal-estar causado por vazamento de informações sobre teor de debates no Colégio Cardinalício, que abordavam dossiê preparado por comissão sobre escândalos

Por José Maria Mayrink , Andrei Netto e Enviados especiais
Atualização:

VATICANO - Se já estava difícil falar com um cardeal antes do conclave que definirá o sucessor de Bento XVI, agora está quase impossível. A Congregação-Geral do Colégio Cardinalício, que se reúne desde segunda-feira para discutir a situação da Igreja e traçar o perfil ideal do novo papa, proibiu qualquer manifestação de seus membros, eleitores ou não, sobre o que está ocorrendo na sala de debates.Além da determinação, que alimentou várias especulações da imprensa, a demora para a chegada a Roma de dois cardeais adiou por mais um dia a definição da data do início do conclave. Jornalistas que conseguem abordar um cardeal recebem respostas monossilábicas, evasivas ou um silêncio intransponível."Lembro-me sim do senhor, mas não posso falar", esquivou-se o cardeal João Braz de Aviz - um dos cinco eleitores brasileiros no conclave -, ao chegar à Basílica de São Pedro nesta quarta-feira. Quando o repórter do Estado perguntou se o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, havia feito uma intervenção, terça-feira, no plenário, d. João continuou caminhado, sem dizer uma palavra.O arrocho contra a divulgação de notícias sobre as reuniões preparatórias atingiu a delegação americana, cujos cardeais vinham falando sobre o processo de sucessão em concorridas entrevistas no Colégio Americano, onde residem padres e seminaristas dos EUA que fazem doutorado em universidades de Roma. A entrevista desta quarta-feira com dois cardeais, Francis George e Theodore McCarrick, foi cancelada, uma hora antes de ser iniciada.O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, explicou que a lei do silêncio foi decidida por consenso. Os americanos, diz Lombardi, achavam que deviam dar informações aos católicos dos Estados Unidos. Mas o vazamento de informações sobre os debates na Congregação-Geral, que vem discutindo o escândalo Vatileaks, além de temas como pedofilia e corrupção na cúpula da Igreja, teria contrariado a Cúria Romana.Entre os cardeais que manifestaram à imprensa preocupações com os temas, um dos mais enfáticos foi o americano Daniel DiNardo, arcebispo de Gavelston-Houston, no Texas. "Queremos saber o máximo possível sobre a governança na Igreja", garantiu, na terça-feira. "Isso tomará o tempo que for necessário. Ninguém quer precipitar as coisas."Antes da proibição, d. Odilo, em entrevista por e-mail ao jornal O São Paulo, publicado pela sua arquidiocese, criticou o desconhecimento da mídia sobre a Igreja. "É um fato interessante que, de um momento para o outro, todos começaram de novo a falar da Igreja, mesmo sem conhecer bem as questões abordadas."DebatesO porta-voz informou, sem entrar em pormenores, que nas quatro reuniões realizadas desde segunda houve 51 intervenções de cardeais que foram ao microfone falar de questões como a Igreja no mundo de hoje e as exigências da nova evangelização (reconquista de fiéis que perderam a fé ou se mudaram para outras igrejas), as relações da Santa Sé e da Cúria com os episcopados e, a principal revelação, a busca do perfil do novo papa."O dia do início do conclave ainda não foi marcado", adiantou-se Lombardi. A demora se deve à decisão de aguardar a chegada a Roma de todos os cardeais eleitores. "Já estão presentes 113, faltam 2", informou, referindo-se ao cardeal polonês Kazimierz Nycze e ao vietnamita Jean-Baptiste Pham Minh Mân - a chegada dos dois está prevista para esta quinta-feira. Pela lei da Igreja Católica, os cardeais têm até 20 de março para iniciar um conclave para escolher seu novo líder.O porta-voz exibiu um vídeo da TV do Vaticano sobre as obras de adaptação da Capela Sistina para o conclave. Técnicos e operários cobriam o piso com um assoalho falso e instalavam estufas para a queima de papéis com os votos e anotações dos cardeais e a produção da fumaça branca que anunciará o novo papa.

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