Estadão
22 de outubro de 2010 | 08h03
A notícia da surpreendente quantidade de água encontrada pela Lcross perto do polo sul da Lua chega dez meses depois de os planos para aproveitar essa água — como fonte de insumos para uma estação lunar — terem sido formalmente cancelados.
O Programa Constellation, que previa o retorno americano à Lua, já era um morto-vivo quando Obama anunciou o cancelamento. Tinha sido reduzido ao estado de zumbi pelo subfinanciamento dado durante o governo Bush.
Mais uma vez — como já havia acontecido com o Projeto Marte de Von Braun, com a Iniciativa de Exploração Espacial de Bush pai, com a Estação Espacial Freedom — repete-se o ciclo em que uma ideia passa de ficção científica a projeto de governo só para virar, logo em seguida, estudo de história alternativa: o que poderia ter sido.
O Estadão impresso me pediu uma breve análise sobre o resultado da Lcross, que reproduzo abaixo:
Os resultados da missão Lcross, que descobriu que o fundo da cratera Cabeus, perto do polo sul da Lua, contém mais água que as areias do Saara, embora cientificamente importantes, têm um sabor de anticlímax: em 2009, a Lcross era vista como uma missão precursora para a instalação de uma base tripulada na Lua, meta estabelecida, no governo de George W. Bush, para a década de 2020.
A lógica da busca por água era exatamente a de encontrar um local onde astronautas pudessem usar o máximo de recursos locais, sem depender exclusivamente de dispendiosas remessas de material da Terra.
No início deste ano, o presidente Barack Obama cancelou o retorno à Lua. A motivação foi complexa, envolvendo questões logísticas e de orçamento, mas Obama não resistiu a usar uma frase de desdém: “Been there, done that” (“já fomos lá, já fizemos isso”).
Os dados da Lcross vêm mostrar que a Lua pode ser um lugar mais interessante do que o presidente supunha. Mas chegam tarde demais, ao menos para a geração atual.
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