Estadão
27 de maio de 2010 | 08h12
Diferentemente, ao que tudo indica, da esmagadora maioria da parcela da população humana com acesso a TV por assinatura, nunca acompanhei a série Lost. Mas era inevitável que volta e meia ouvisse falar algo a respeito (pessoas presa numa ilha; eventos inexplicáveis; conspiração; uma empresa misteriosa; etc.).
Quando me contaram que havia viagem no tempo envolvida na história, pensei: “Pronto, é isso”.
“Isso, o quê?”, perguntavam-me os amigos mais envolvidos com o seriado. “A explicação”, eu respondia. “Explicação do quê?”, insistiam. “De tudo”, dizia eu.
Acontece que existe um ótimo motivo para que a maioria dos cientistas considere viagens no tempo — mais especificamente, ao passado — impossíveis ou, se possíveis, cercadas por limitações e dominadas por circunstâncias especiais.
Aceitar a volta ao passado é o equivalente físico de se aceitar uma contradição na lógica clássica: uma vez que isso seja feito, vale tudo. Qualquer coisa é possível, incluindo o fato e seu oposto. Verdades podem se converter em falsidades, e vice-versa, um número infinito de vezes. A realidade torna-se instável.
(Um bom exemplo disso é o conto All You Zombies, de Robert Heinlein. Para quem já conhece a história ou não tem medo de “spoilers”, aqui há uma linha do tempo explicando todas as convolutas conexões entre passado, presente e futuro no interior da narrativa.)
Bom, resumindo: uma vez aberta a possibilidade irrestrita de viagem entre o presente e o passado, qualquer absurdo passa a ter uma explicação em potencial, nem que a explicação seja, em si, um paradoxo. O próprio J.J. Abrams usou o princípio em seu “reboot” de Star Trek.
Mas, pelo que ouvi, não foi via viagem no tempo que se fez a solução de Lost, o que certamente prejudicará mina reputação como palpiteiro. Se tivesse uma máquina do tempo, voltaria ao passado para corrigir isso.
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