O fato é que não existe um sistema no qual se peça aos eleitores que destaquem um candidato favorito que garanta a produção de resultado justo. Demonstrado em 1948 pelo economista Kenneth Arrow, o chamado Teorema da Impossibilidade é uma espécie de Teoria da Relatividade da política: do mesmo jeito que o trabalho de Einstein convenceu os físicos de que é impossível viajar mais rápido que a luz, o resultado de Arrow convenceu muita gente de que a democracia é intrinsecamente defeituosa -- mesmo que, talvez, menos defeituosa que as alternativas.
É importante notar que o Teorema da Impossibilidade é uma prova matemática. Discordar dele faz tanto sentido quanto discordar do valor de pi ou da lei da gravidade.
A esta altura, você tem todo do direito deachar que há algo estranho por aqui: afinal, como uma prova matemática pode dizer se uma coisa é "justa" ou não?
O que Arrow fez foi definir cinco critérios objetivos que seriam as condições necessárias para uma decisão democraticamente justa. A linguagem técnica é meio enrolada (você pode encontrar uma descrição do critérios aqui, e um tratamento mais alongado do assunto na Wikipedia em inglês), mas no frigir dos ovos os critérios dizem coisas assim: o resultado da eleição não deve se limitar a reproduzir a preferência de um eleitor individual (princípio da ausência de ditadura); um candidato não deve ser prejudicado por ter mais votos; se a maioria das pessoas prefere uma opção, o resultado do pleito deve refletir isso.
O teorema se aplica a todas as situações onde uma coletividade busca decidir algo pedindo a seus membros que definam um ranking bem ordenado de prioridades, pondo uma opção em primeiro lugar, outra em segundo, etc. Uma eleição tradicional é um caso especial, no qual a cédula eleitoral é um ranking onde só existe oprimeiro lugar.
Então, como ficamos? Em seu livro Gaming the Vote, William Poundstone sugere que a solução pode estar em métodos de votação onde o eleitor não elabora rankings bem ordenados.
Nesse ponto de vista, a salvação da democracia pode estar em sistemas como o do Internet Movie Database e da Amazon.com, onde os filmes e livros recebem notas, e o fato de um filme ter tirado nota 10 não impede que outros também tirem. Num sistema de "voto por nota", o eleitor daria uma avaliação a cada candidato -- digamos, de zero a cinco -- podendo repetir notas à vontade.
Isso acaba com o problema de voto dividido, já que é possível dar boas notas a todos os candidatos de quem você gosta. O problema do "sepultamento" também desaparece -- você não é obrigado a dar nota alta para um nanico maluco se quiser dar zero aoconcorrente principal de seu candidato favorito. É só dar zero para o concorrente e para o nanico.
A ideia de converter as eleições no equivalente a um site de crítica de cinema pode soar esquisita, mas por que não? Seria apenas mais uma contribuição conceitual do mundo online para a democracia.