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Chuvas no Triássico orientaram distribuição de mamíferos e répteis

O supercontinente Pangeia tinha poucas barreiras geográficas, mas os animais ficaram isolados em regiões distintas.

Por taniager
Atualização:

A quase totalidade da massa terrestre de nosso planeta estava reunida em um supercontinente denominado Pangeia há mais de 200 milhões de anos. Nele, habitavam animais que poderiam percorrer toda a vasta porção de terra sem ter de enfrentar muitas barreiras geográficas, como montanhas ou calotas de gelo. No entanto, um estudo realizado por equipe de cientistas liderada por Jessica Whiteside da Universidade de Brown, EUA, demonstrou que répteis e mamíferos permaneceram isolados em regiões distintas. O artigo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences desta semana.

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Estudar levando em consideração um corte transversal em Pangeia, uma longa faixa no centro do continente que abrangia as zonas tropical e temperada semiárida, permitiu que a equipe pudesse constatar que répteis da espécie procolophonids viviam em uma área, enquanto mamíferos da espécie precursora traversodont cinodontes viviam em outra. Embora semelhantes em muitos aspectos, seus caminhos evidentemente não se cruzaram. Para a professora de Ciências Geológicas e estudiosa de climas antigos, pensar sobre o que controla onde organismos vivem leva a duas respostas: geografia e clima.

A equipe constatou que a frequência de chuvas ao longo das linhas de latitude influiu na localização dos habitats destes animais. Na zona tropical habitada pelos mamíferos, a chuva de monção acontecia duas vezes ao ano. Mas, se distanciando para o norte de Pangeia, já nas regiões temperadas onde os répteis predominavam, as grandes chuvas ocorriam apenas uma vez ao ano. Os pesquisadores concluíram que a diferença entre as frequências das precipitações foi um fator determinante para a escolha feita pelos mamíferos e répteis de distintas regiões.

Por quê?

Os cientistas focaram em uma importante diferença fisiológica entre os dois: como eles excretam. Mamíferos perdem água quando excretam e precisam reabastecer o que perdem. Répteis (e aves) se livram dos resíduos corporais sob a forma de ácido úrico, sob uma forma sólida ou semissólida que contém muito pouca água.

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Em Pangeia, os mamíferos precisavam de uma área rica em água. Assim, a disponibilidade de água desempenhou um papel decisivo na determinação de onde viveram. "É interessante que algo tão básico como a forma como o organismo trata seus resíduos pode restringir o movimento de um grupo inteiro," disse Whiteside. A pesquisadora acrescenta que os répteis tinham uma vantagem competitiva sobre os mamíferos nas áreas onde a água era mais limitada. Assim, não migravam para as regiões equatoriais, pois já tinham encontrado seu nicho.

Importância do estudo

A pesquisa é importante porque as projeções das alterações climáticas mostram áreas que poderiam receber menor quantidade de precipitações, onde os mamíferos entram em estresse.

Danielle Grogan, membro da equipe, argumenta que há evidência de que a mudança climática nos últimos 100 anos já alterou a distribuição de espécies mamíferas. Acrescenta que este estudo poderia ajudar a prever efeitos climáticos negativos em mamíferos futuramente.

Metodologia da pesquisa

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Os pesquisadores compilaram um registro de alterações climáticas em Pangeia durante o final do período Triássico, de 234 milhões de anos a 209 milhões de anos atrás, usando amostras recolhidas de lagos e antigas bacias sedimentares do tipo Rift (onde sedimentos são depositados na abertura da falha) em regiões que se estendem da Geórgia a Nova Escócia nos dias atuais. Pangeia era uma estufa então: as temperaturas eram aproximadamente 20 graus Celsius mais quentes no verão; a taxa de dióxido de carbono na atmosfera era de cinco a 20 vezes maior do que hoje. Além das diferenças regionais que incluem a quantidade de chuvas.

O estudo teve como base a lacuna de chuvas em variações de precessão da Terra, ou a oscilação em seu eixo, juntamente com o ciclo de excentricidade baseado na posição orbital da Terra em relação ao Sol. Juntos, esses ciclos de Milankovitch influenciam quanto da luz solar, ou energia, atinge diferentes áreas do planeta. Durante o Triássico, as regiões equatoriais receberam mais luz solar, o que quer dizer mais energia para gerar chuvas mais frequentes. As latitudes mais altas, com menos luz solar total, experimentaram uma quantidade menor de chuvas.

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