Reconhecer a voz de um ente querido pode parecer simples, mas exige um mecanismo complexo de aprendizagem auditiva rápida de sons. O resultado de estudo realizado por pesquisadores do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) associado às Universidades de Paris e Toulouse, França, revela que um mecanismo natural de aprendizagem auditiva nos seres humanos permite identificar e memorizar padrões sonoros complexos de forma muito rápida, eficiente e permanentemente.
Este mecanismo pode estar também associado à reaprendizagem de certos sons. O trabalho, que abre novas perspectivas para a compreensão de processos de memorização auditiva, foi publicado na revista Neuron ontem.
Estudos anteriores sobre memória auditiva haviam abordado sons simples ou a linguagem, mas agora três pesquisadores franceses estudaram sons complexos e exploraram a capacidade humana de memorizá-los.
A experiência foi realizada com voluntários submetidos a várias amostras sonoras. Ruídos gerados de forma aleatória e imprevisível foram aplicados aos indivíduos do teste para que eles não pudessem reconhecer sons ou associá-los a qualquer significado.Os ouvintes não foram informados de que um padrão sonoro complexo seria repetido durante a experiência.
Como o ser humano memoriza um som?
Daniel Pressnitzer, pesquisador envolvido no estudo, argumenta que o nosso ouvido é extraordinariamente eficaz para distinguir os padrões sonoros. Os ouvintes são capazes de reconhecer de maneira quase infalível o padrão sonoro que lhes foi apresentado várias vezes: escutar duas vezes foi o suficiente para pessoas habituadas com os sons, somente uma dúzia de vezes foi necessária para menos treinados. A repetição sonora induz a uma aprendizagem extremamente rápida e eficaz. Ela se coloca implicitamente (ela não é supervisionada). Além disso, essa memória do ruído pode persistir durante várias semanas. Duas semanas após a primeira experiência, os voluntários identificaram, na primeira tentativa, o padrão sonoro de ruído aplicado na experiência anterior.
O resultado da experiência demonstrou que a aprendizagem auditiva é rápida, sólida e perene. Existe um mecanismo de plasticidade auditiva rápida - envolve a capacidade de um neurônio auditivo para modular o tipo de resposta rápida a uma estimulação sonora - que intervém de forma extremamente eficaz em nossa aprendizagem do universo sonoro.
Esse processo é provavelmente essencial para identificar e memorizar os padrões sonoros recorrentes em nosso ambiente acústico, como a voz de um ente querido. Com ele os seres humanos aprendem a associar o som com o objeto que é a sua causa.
Os pesquisadores acreditam que este mesmo mecanismo também poderia estar envolvido na reaprendizagem: muitas vezes isto é necessário após alterações bruscas de audição.
O conhecimento que o estudo trás também pode colaborar para a reeducação auditiva de pessoas que estão começando a usar aparelhos para surdez. Estas pessoas precisam de um tempo de adaptação a essas próteses para que elas se habituem novamente a entender os sons que elas não percebiam mais ou percebiam de forma diferente.
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