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Fêmeas de pássaros canoros herdam gene paterno da infidelidade

Presume-se que muitas espécies de aves são monogâmicas, entretanto a infidelidade é um fenômeno generalizado entre elas.

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Por taniager
Atualização:

Presume-se que muitas espécies de aves sejam monogâmicas, entretanto, a infidelidade é um fenômeno generalizado. A vantagem para o macho parece óbvia, pois aumenta o número de sua prole. Fêmeas, no entanto, devem enfrentar os custos: parceiros traídos reduzem seus cuidados paternais, e amantes podem transmitir doenças. Mesmo assim, muitas insistem em "pular o muro".

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Tentando entender esse comportamento, pesquisadores do Instituto Max Planck, na Áustria, investigaram tentilhões zebra (também conhecidos por mandarins) e descobriram que as fêmeas herdam a disposição para a infidelidade dos machos. O estudo foi publicado na revista PNAS.

Bem ou mal. Por muito tempo se pensou que a maioria das espécies de aves cursava um caminho estritamente monogâmico na vida. Mas, ao usar métodos de genética molecular, os cientistas foram descobrindo ao longo dos últimos 20 anos que muitos jovens não se originavam de seus pais sociais. Inicialmente, a explicação para essas paternidades extraconjugais parecia plausível: machos poderiam aumentar seu sucesso reprodutivo com um maior número de descendentes e as fêmeas receberiam genes de alta qualidade ao desviar seus olhares para novos pássaros.

Recentemente, cientistas lançaram dúvidas sobre essa explicação, pois os benefícios reais para as fêmeas não são tão grandes como os esperados. Pelo contrário, os aspectos negativos prevalecem mesmo. Os machos traídos muitas vezes reduzem seus esforços de paternidade e também não se pode esperar apoio de companheiros extraconjugais, pois ajudam sua própria prole. Portanto, o porquê de algumas fêmeas procurarem acasalamento extraconjugal permaneceu sem explicação.

Resposta. O ecologista comportamental Wolfgang Forstmeier e seus colegas do Instituto Max Planck de ornitologia acabam de encontrar uma possível explicação para o fenômeno. Durante oito anos, os pesquisadores investigaram o comportamento sexual de mais de 1500 tentilhões zebra. No início, os pássaros sem pares, machos e fêmeas, foram submetidos a um teste para avaliar suas motivações sexuais ou libidos. Depois, um subconjunto dos tentilhões foi transferido para dentro dos aviários para testar quão monogamicamente os indivíduos "casados" se comportariam dentro de um grande grupo.

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Usando um sistema de vigilância por vídeo, os pesquisadores puderam observar como as fêmeas "casadas" reagiam aos avanços de seus próprios parceiros e de machos estranhos. Além disso, os pesquisadores fizeram análises genéticas de paternidade, usando um método de marcador de microssatélites, para determinar o número de descendentes que um macho tinha procriado em um ninho estrangeiro. Também identificaram o número de descendentes que uma fêmea havia produzido com um macho extraconjugal.

O resultado foi surpreendente. Aparentemente a disposição de fêmeas para se envolverem em contatos extraconjugais era herdada de seus pais machos que tinham traído suas parceiras também. A predisposição para a infidelidade mostra uma base genética moderada, mas evolutivamente crucial. Uma vez que a prontidão para a infidelidade é passada de pai para filha, os pesquisadores chegaram a uma nova interpretação da infidelidade feminina.

"Não é essencial que haja uma vantagem evolutiva para as mulheres", diz Wolfgang Forstmeier, autor do estudo. "É mais que suficiente que ancestrais masculinos tenham benefícios que resultem de suas promiscuidades. O gene "Casanova" vai aumentar sua frequência dentro de uma população, contanto que os benefícios para os portadores machos do gene superem os custos arcados pelas portadoras deste gene".

Novas dúvidas. Se a hipótese de uma evolução correlacionada com a infidelidade masculina e feminina pode ser transferida para seres humanos, ainda é uma questão aberta para a especulação. Não há nenhuma dúvida, no entanto, de que exista uma base genética para muitos aspectos do comportamento sexual humano. "Em que medida os mesmos genes influenciam o comportamento feminino e masculino de forma semelhante é uma questão a ser respondida em estudos futuros", diz Forstmeier.

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