Há quatro décadas os astrônomos tentam solucionar os mistérios que envolvem a calota polar de gelo em Marte. Várias hipóteses foram levantadas na tentativa de explicar as causas que determinaram a textura formidável da calota polar norte (veja imagem). Finalmente, com o apoio de dados coletados pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA, os cientistas conseguiram novas informações sobre a mudança climática no planeta vermelho. Os resultados foram divulgados pela NASA ontem.
Os dados enviados pelo radar Shallow, ou SHARAD, a bordo da sonda MRO, fornecem informações que revelam a geologia subterrânea da calota de gelo, responsável pela formação de um grande abismo e uma série de depressões espiraladas.
Enquanto na Terra as grandes camadas de gelo são modeladas principalmente por fluxo de gelo, em Marte outras forças estão atuando.
A calota polar norte é uma pilha de gelo e poeira depositados em uma área um pouco maior que a área do Texas - maior que a do Estado do Mato Grosso. A calota pôde ser descamada,como em uma cebola, para visualização e compreensão de sua evolução ao longo do tempo, com a ajuda da análise dos dados feita por um computador.
Uma das características mais distintivas da calota de gelo polar norte, o Chasma Boreale, é um canion quase tão longo quanto o Grand Canyon nos EUA, porém mais profundo e mais largo. Duas hipóteses tentavam explicar sua formação: uma inudação catastrófica foi disparada pelo derretimento da parte inferior do manto de gelo, ou; fortes ventos polares o esculpiram.
Além do canion, outra forma enigmática se apresenta na calota de gelo. É uma espiral formada por canais que mais parece um gigantesco catavento. Sua formação também envolve várias hipóteses sendo que duas delas prevalecem. A primeira propõe que com a rotação de Marte, o gelo mais próximo aos pólos move-se mais lentamente que o gelo mais distante, fazendo com que o gelo semifluido trinque. A segunda, por sua vez, decorre de um modelo matemático que sugere uma união de canais em espiral devido ao aumento de aquecimento solar em certas áreas e à condução de calor lateral.
Agora, os cientistas em posse dos novos dados concluíram que tanto o canion quanto os canais em espiral foram modelados pelo vento. As texturas se formaram ao longo de milhões de anos durante o crescimento do manto de gelo. Os padrões de vento influenciaram a forma mais antiga e original do gelo que, por sua vez, controlou onde e como as texturas podiam se desenvolver.
Para Jack Holt, do Instituto de Geofísica de Austin da Universidade do Texas "as camadas registram um histórico da acumulação, erosão e circulação do vento no gelo. Agora podemos recuperar um histórico do clima bem mais detalhado, diferente do que podíamos fazer antes."
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