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Mudanças climáticas: olhando o passado para compreender o presente

Ideia de que mudanças climáticas estão associadas apenas com atividades humanas é contestada por pesquisadores.

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Por taniager
Atualização:

A noção vigente de que as mudanças climáticas estão correlacionas somente com as atividades humanas - hipótese antropogênica - foi contestada por pesquisadores, liderados pelo professor Eelco Rohling da Universidade de Southampton, Grã-Bretanha. O estudo partiu de uma comparação entre as mudanças que afetaram o clima no passado com aquelas que afetam o presente.

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Para tanto, os cientistas tiveram de pesquisar as mudanças climáticas no passado utilizando o método do Mar Vermelho (em inglês: "Red Sea method"), desenvolvido por Rohling, que foca as diferenças nos níveis do mar, refletindo o volume de gelo.

São duas as teorias vigentes: a hipótese antropogência e a hipótese de que as mudanças na órbita da Terra em torno do Sol afetam o clima ao controlar os ciclos da idade do gelo.

Segundo a hipótese antropogênica, impactos de longo prazo no clima pelas atividades do homem no desmatamento e emissões de metano e de dióxido de carbono nos mantiveram artificialmente em condições de aquecimento interglaciais, que persistem desde o final do Pleistoceno, cerca de 11 400 anos atrás.

Mas foi a segunda hipótese que levou a equipe, que inclui cientistas das Universidades de Tubingen (Alemanha) e de Bristol (Inglaterra), a comparar o período interglacial quente atual com um período de 400 mil anos atrás (estágio isotópico marinho 11, ou MIS-11).Muitos aspectos da configuração da órbita da Terra em torno do Sol durante o MIS-11 foram similares aos do atual período interglacial, e os níveis do mar em ambos os períodos subiram de 1 a 1,2 metros por século. Por esta razão, o MIS-11 é muitas vezes considerado como um análogo em potencial para o estudo do desenvolvimento futuro do clima na ausência de influência humana. Pela analogia, ficou evidente que o período interglacial atual deveria ter terminado 2-2.5 mil anos atrás.

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Para chegarem a esta conclusão, os cientista utilizaram o método do Mar Vermelho. A água passa entre o Mar Vermelho e o oceano aberto somente através do raso Estreito de Bab-el-Mandab, que restringe a queda do nível do mar, reduzindo a troca de água. A evaporação no Mar Vermelho, aumenta a sua salinidade e muda a abundância relativa de isótopos de oxigênio estável.

Ao analisar a proporção de isótopos de oxigênio em pequenas criaturas marinhas, as foraminíferas, e preservadas em sedimentos que se depositaram no fundo do mar Vermelho, os cientistas reconstruíram os níveis do mar no passado, níveis que foram confirmados pela comparação com os restos fossilizados de recifes de coral.

Assim, os pesquisadores puderam confirmar que o período interglacial atual tem durado, efetivamente, cerca de 2,0-2,5 milênios mais do que a hipótese das mudanças orbitais da Terra prevera.

 Mas, as condições interglaciais continuam com o CO2 , a temperatura e o nível do mar aumentando. Então, por que a Terra ainda permanece tão quente?

A explicação somente pode ser respondida quando os investigadores consideraram uma teoria rival, que olha a quantidade de energia solar que atinge a Terra na mesma latitude durante os meses de verão. Sob essa teoria, os níveis do mar podem permanecer elevados por mais dois mil anos ou ainda mais, mesmo sem o aquecimento do efeito estufa.

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Segundo Rohling, as pesquisas futuras deverão diminuir mais precisamente a influência da teoria das mudanças orbitais no clima."Isso é crucial para uma melhor compreensão das tendências climáticas naturais ao longo do tempo, em escala milenar. É essencial para uma melhor compreensão de quaisquer impactos em potencial das atividades humanas sobre o clima no longo prazo".

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