taniager
23 de março de 2010 | 11h56
Duas células neurais de ratos conectadas a uma rede de nanotubos de carbono. (Crédito: cortesia da Universidade de Tel Aviv)
O olho biônico está deixando de ser ficção para se tornar realidade em breve, graças a uma nova pesquisa realizada por uma equipe de cientistas da Universidade de Tel Aviv, Israel. O estudo pioneiro, orientado para desenvolver tecnologia de implante de retina, integra células nervosas da retina com eletrodos para estimular o crescimento celular.
A profa. Yael Hanein, da Faculdade de Engenharia Elétrica, apresentou recentemente o resultado bem sucedido da pesquisa realizada em animais. A pesquisa pode um dia lançar as bases para implantes de retina em seres humanos, devolvendo a visão aos cegos. Mas, por enquanto, a invenção metade máquina, metade humana, pode ser usada por especialistas que desenvolvem drogas quando investigam novos compostos ou formulações para o tratamento de tecidos nervosos delicados no cérebro.
A equipe está trabalhando no momento para construir uma interface entre tecnologia artificial e neurônios, que pode ser útil em aplicações in vitro e in vivo. Segundo Hanein, ela fornece uma compreensão de como os neurônios trabalham. Com esta informação é possível construir melhores dispositivos e drogas.
Procedimentos da pesquisa
A equipe desenvolveu um emaranhado de nanotubos de carbono (um milionésimo de milímetro), e conseguiu fazer com que neurônios vivos de ratos crescessem nesta estrutura artificial usando uma corrente elétrica. Apesar de ser um processo muito complexo, os neurônios aderem bem à estrutura, fundindo-se com a interface sintética elétrica e física. Usando a nova tecnologia desenvolvida no laboratório da Profa Hanein, sua estudante Mark Shein vem observando como os neurônios se comunicam e trabalham juntos.
“Estamos tentando responder às perguntas mais básicas em ciência,” Hanein explica. “Neurônios migram e unem-se, e usando as abordagens que nós desenvolvemos, estamos agora em condições de “ouvir” a forma como os neurônios são ativados e se comunicam através de impulsos elétricos. Ouvindo neurônios ‘falar’ nos permite responder a mais básica das questões: como os grupos de neurônios trabalham juntos. Se podemos investigar redes de neurônios funcionais no laboratório, nós podemos estudar o que não pode ser visto ou ouvido no cérebro inteiro, onde existem muitos sinais em um só lugar.”
Aplicações práticas
A pesquisa fornece meios para uma nova abordagem das doenças de degeneração de retina. Existem várias doenças da retina que são incuráveis, tal como a retinite pigmentosa. Alguns pesquisadores têm investigado um dispositivo protético que poderia substituir as células danificadas.
Como os neurônios “gostam” de formar boas ligações com a nanotecnologia exclusiva desta pesquisa, ela tornou os implantes de retina viáveis. O implante de retina, utilizando essa nova técnica, pode substituir a atividade em locais de células danificadas e, no caso de doenças da retina, os fotorreceptores danificados.
Este grande avanço promove a construção de “dispositivos” artificiais em um nanomaterial flexível adequado para a pequena área do olho, onde o crescimento de uma nova conexão neural é necessário. Este é o primeiro passo de um longo processo clínico que pode levar a melhora da visão – e talvez, um dia, a um homem realmente biônico.
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